Ao longo da última década, diversas empresas e investidores internacionais reforçaram seu discurso verde com compromissos novos ou renovados para evitar que seus negócios e investimentos intensifiquem a destruição do meio ambiente em geral (e o desmatamento da Amazônia, em específico). Em muitos casos, foram definidas metas ambiciosas para 2020, como eliminar totalmente fornecedores associados ao desmatamento das cadeias de valor ou acabar com o financiamento a atividades desmatadoras.
O problema é que, passado o prazo, muitas promessas não passaram disso mesmo – promessas. Duas reportagens mostraram como investidores e empresas tropeçaram (e seguem tropeçando) em seus compromissos de sustentabilidade e proteção ambiental no Brasil.
No Financial Times, Bryan Harris e Michael Stott destacaram que vários grupos de investimentos que ameaçaram se desfazer de ativos no Brasil caso o desmatamento seguisse crescendo não o fizeram. Da mesma forma, varejistas como Tesco e M&S, que ameaçaram boicotar produtos brasileiros por causa da explosão do desmatamento na Amazônia, continuaram comprando de fornecedores do país mesmo com os números crescentes da destruição da floresta.
A matéria ressaltou um ponto importante dessa omissão de empresas e investidores: as ameaças descumpridas de consequência negativa ao Brasil, caso o desmatamento siga desenfreado, podem servir como o combustível final para que o governo Bolsonaro pise no acelerador da destruição ambiental, sem medo de consequências econômicas.
Já Lucy Thompkins fez um panorama no NY Times sobre as promessas de sustentabilidade de gigantes como Cargill, Nestlé e Carrefour para 2020 – e o que foi efetivamente cumprido por elas. O resultado não é surpreendente, mas é lamentável: empresas que prometeram acabar com o desmatamento em suas cadeias de suprimento seguem comprando matéria-prima produzida a partir da destruição da Amazônia. Em alguns casos, faltou fiscalização por parte dessas corporações, muitas com sistemas falhos de monitoramento. Por outro lado, a intensificação das cobranças por sustentabilidade neste começo de década parece estar servindo para impulsionar a preocupação e a ação dessas empresas nesse sentido, tirando-as da apatia que marcou a década passada.
Em tempo: Por falar em produtos relacionados à devastação ambiental, uma análise da Amazon Watch e da Stand.earth mostrou que pelo menos 50% do petróleo produzido na Amazônia tem como destino o estado norte-americano da Califórnia, um dos principais champions da ação climática nos EUA. “As refinarias, empresas e consumidores da Califórnia estão desempenhando um papel descomunal no consumo de petróleo de uma das regiões de maior biodiversidade do mundo”, destacou o relatório. As entidades pediram ao governo do estado medidas que restrinjam a venda de combustível produzido na Amazônia. A notícia é da Reuters.
Fonte: ClimaInfo
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