Descrito como “surpreendente”, um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Notre Dame, Estados Unidos, descobriu uma nova célula no coração — descrita anteriormente apenas no cérebro e na medula espinhal. A “nexo da glia”, nome dado por conta da sua forma semelhante a uma rede ao redor do órgão, pode ampliar o conhecimento dos médicos sobre as doenças cardíacas. A pesquisa foi publicada na PLOS Biology.
As células gliais são essenciais para o desenvolvimento e funcionalidade de todo o sistema nervoso central (SNC) de vertebrados, subfilo de animais que possuem coluna vertebral segmentada e crânio que protege o cérebro. Elas também lembram astrócitos — células mais abundantes do SNC e com as maiores dimensões (em formato de estrelas).
E apesar da sua importância para o corpo, estas células não eram encontradas no sistema nervoso periférico (SNP) — partes conectadas por nervos fora do cérebro e da medula espinhal, como gânglios nervosos — não até a recente pesquisa. Cody Smith, coautor do artigo, compartilhou em suas redes sociais que esse foi o motivo que deixou a equipe intrigada a procurar células semelhantes às gliais em outras partes além do cérebro e medula espinhal.
Descobertas da nova célula no coração
Os pesquisadores analisaram um peixe-zebra (vulgo paulistinha, peixinho ornamental de aquário) e descobriram um tipo de célula no coração do animal que se assemelhava aos astrócitos. Cruzando dados com outras espécies, os cientistas descobriram as mesmas células em corações de humanos e ratos. Esses corpos são formados antes mesmo de nascermos e fazem parte do mesmo grupo de células que formam nossos rostos e músculos lisos.
Os pesquisadores descobriram que elas se espalham pelo coração a partir das vias de saída — estrutura que se forma durante o desenvolvimento e contribui para uma via que conecta os ventrículos às artérias que saem do coração. Smith disse que a definição de grande ciência é algo que você descobre que abre ainda mais questões, e este é o caso. Segundo ele, essa é uma descoberta que agora a equipe tem outras 100 perguntas que nem sabíamos que existiam. “Estamos acompanhando-as para explorar esse caminho que nunca foi estudado antes”, disse.
Doenças cardíacas
A descoberta pode abrir caminho para entendimento, e, quem sabe, tratamento de algumas doenças cardíacas. Nina L. Kikel-Coury, principal autora do estudo, disse que os achados são fascinantes, já que o trato de saída é problemático em 30% das doenças cardíacas congênitas. Assim, quando a equipe acompanhou os batimentos cardíacos, puderam notar a taquicardia quando o nexo da célula glia foi interrompido.
Kikel-Coury ficou interessada em como essas células eram fatoradas em um grupo de condições médicas chamadas disautonomia, que resultam de falhas no sistema nervoso autônomo. Ela descobriu que em uma dessas situações, ocorre a síndrome de taquicardia postural ortostática (POTS), que causa tonturas, desmaios e um rápido aumento da frequência cardíaca.
E ainda que os pesquisadores acreditem que a nova célula descoberta na pesquisa possa estar ligada com a POTS e outras doenças cardíacas, é muito cedo para afirmar. A equipe ainda não sabe completamente a função delas, mas o conceito de que, se você tiver as glias no coração, os batimentos cardíacos aumentam, isso pode associá-las a mais casos de complicações, como ataque cardíaco.
Fonte: CanalTech
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