O vice-presidente Hamilton Mourão recebeu um “puxão de orelhas” do novo embaixador da Noruega no Brasil, Odd Magne Rudd. Em reunião nesta 2ª feira (18/10), o diplomata norueguês ressaltou a disposição em dialogar com o governo brasileiro sobre o futuro do Fundo Amazônia, mas cobrou um plano concreto de combate ao desmatamento para destravar o financiamento internacional. O Fundo segue congelado desde 2019, depois de divergências entre a administração Bolsonaro e os parceiros Alemanha e Noruega sobre a governança e o uso dos recursos.
“O Brasil precisa de um plano concreto para o desmatamento, precisa acordar o estilo de gestão do comitê. Então essas são algumas questões que precisamos discutir. Mas essa é uma cooperação muito importante para nós e eu espero continuar o diálogo com o vice-presidente”, disse Rudd depois do encontro com Mourão.
Já o general-vice reconheceu a necessidade de resultados positivos no combate ao desmatamento na Amazônia para facilitar a retomada do Fundo e disse que o desempenho do Brasil na COP26 será “importantíssimo” para que o país recupere seu prestígio internacional na seara ambiental. “É aquela história, se a gente tiver um resultado bom, [o Fundo] volta. Está tudo pronto, é só eles darem o sinal verde”, disse. Os portais g1, Metrópoles, Poder360 e R7 deram mais detalhes sobre o encontro.
Por falar em COP, o Valor destacou a movimentação de grandes nomes do PIB brasileiro para pressionar o governo brasileiro por compromissos claros nas negociações em Glasgow. Para eles, a situação é emergencial: se o Brasil não mostrar firmeza e ambição em seus planos climáticos, o país pode perder investimentos e competitividade no mercado internacional. No entanto, de acordo com Metrópoles, a estratégia do Brasil na COP ainda se baseia fundamentalmente em “passar o caneco” à busca de recursos internacionais para financiar ações de proteção ambiental.
Para Virgílio Viana (FAS), a maior chance do Brasil sair bem de Glasgow está na proatividade dos governos subnacionais e da iniciativa privada, que querem ocupar o protagonismo deixado para trás por Bolsonaro na agenda climática. “O apoio das lideranças empresariais brasileiras, lideranças da sociedade civil e da Academia [evidenciam] que o Brasil é maior do que apenas a posição do governo federal”, disse Viana ao Estadão.
Ainda sobre o Brasil na COP, Natalie Unterstell escreveu no Reset sobre os sinais ambíguos do governo Bolsonaro na véspera do encontro em Glasgow. Por um lado, o Brasil se comprometeu com a neutralidade de suas emissões até 2050 e sinaliza uma meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030. Por outro, o governo não corrigiu a NDC brasileira para o Acordo de Paris, o que indica a possibilidade do país emitir mais gases de efeito estufa nesta década em comparação com o que tinha sido prometido na primeira versão do documento, em 2015. “Seguir essa NDC valida o desmatamento como um risco sistêmico a nossa economia e aumenta o nível de alerta para quem busca atrair parcerias e investimentos internacionais”, argumentou.
Fonte: ClimaInfo
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