O aperto energético experimentado por China e Europa já causa impactos nos resultados macroeconômicos, e estes podem ser obstáculos importantes para os planos climáticos nas duas regiões. No caso chinês, o desempenho do PIB no 3º trimestre foi comprometido pelos cortes de energia: a economia do país cresceu 4,9% na comparação com o mesmo período em 2020 (em plena pandemia), mas abaixo dos 7,9% registrados no trimestre anterior, bem como dos 5,2% esperados por economistas para esse período. O Financial Times destacou que a falta de energia na China já representa uma ameaça à economia global, por causa de seus efeitos nas cadeias de fornecimento em outros países. Por ora, o governo chinês recorre a uma abordagem pragmática: ao mesmo tempo em que reforça seus compromissos para reduzir o consumo de carvão no setor elétrico, o país permitiu novos projetos termelétricos e a expansão de minas para obter mais combustível para as usinas no curto prazo. Folha e Valor publicaram uma tradução da reportagem.
Como David Brown lembrou na BBC, a crise energética e os contratempos da política climática na China refletem-se diretamente nas possibilidades globais de contenção do aquecimento global e redução das emissões de carbono. Com o carvão ainda representando uma parcela significativa da matriz energética chinesa, o país terá problemas no curto prazo para conseguir desativar usinas termelétricas, mesmo se a crise energética for solucionada. A Folha também repercutiu matéria da AFP sobre as dificuldades dos países asiáticos em geral para abandonar o carvão nos próximos anos.
Já na Europa, os problemas causados pela alta do gás no continente deram margem para que a Polônia pisasse no freio na estratégia climática da UE. De acordo com a Reuters, o país do Leste Europeu quer que o bloco “repense” seu Green Deal por conta da crise energética, adiando algumas metas e dando sobrevida aos combustíveis fósseis no mercado europeu.
A Polônia advoga em causa própria: um dos maiores produtores de carvão do continente, o país também é um dos mais dependentes desse combustível para geração de energia. Ao menos por enquanto, a proposta não teve boa recepção em Bruxelas: o chefe de política climática da UE, Frans Timmermans, disse à Reuters que “será uma tragédia se, nesta crise, voltarmos a investir em carvão, que é uma fonte de energia sem futuro e extremamente poluente”.
Enquanto isso, a russa Gazprom mantém a pressão sobre o mercado europeu. De acordo com o Financial Times, a empresa rejeitou a possibilidade de ampliar as exportações de gás para a Europa no próximo mês, o que deverá manter mais salgado o preço da energia. A decisão também é uma maneira do governo russo de pressionar a UE em torno do projeto do gasoduto Nord Stream 2, que pretende levar gás para a Europa através da Alemanha em detrimento da conexão atual via Ucrânia. A jogada é 100% geopolítica: os russos querem enfraquecer o governo ucraniano, que depende dos recursos arrecadados pelos gasodutos que passam por seu território, em meio às disputas militares no leste do país.
Fonte: ClimaInfo
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