O intuito da jornada é ampliar o olhar para outra área, diz a professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e coordenadora do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda, que lidera a viagem
Uma expedição inédita para estudar as preguiças de coleira (Bradypus torquatus) acontece desde o dia 30 de setembro, quando a equipe formada por sete pessoas iniciou viagem rumo ao Sergipe, extremo norte da distribuição da espécie. A espécie, pouco conhecida, é endêmica ao Brasil, ou seja, só existe em solo brasileiro, mais especificamente na Mata Atlântica costeira do Sudeste e Nordeste, no trecho entre Sergipe e o Rio de Janeiro. Pesquisadores querem coletar dados genéticos de uma população que vive no estado sergipano, ponto mais ao norte de ocorrência da preguiça, e que nunca foi estudada.
Os dados coletados serão comparados com as informações já conhecidas das espécies que vivem na região da Praia do Forte, em Mata de São João, na Bahia. Com isso, os estudiosos pretendem resolver um mistério: essa espécie do extremo norte é a mesma da encontrada na parte mais ao sul? Os pesquisadores desconfiam que o Rio Paraguaçu, curso de água que banha o estado da Bahia, esteja separando essas populações, causando uma incerteza taxonômica.
“Não sabemos se elas chegam a pertencer à mesma espécie, se há diferença taxonômica ou fisiológica. Não temos nenhum registro dos indivíduos dessa localidade”, afirma Flávia Miranda, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e coordenadora do Instituto Tamanduá.
A preguiça de coleira é uma espécie ameaçada de extinção, classificada então como “Vulnerável” pela lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e pela lista nacional, feita pelo ICMBio. Por habitar uma área severamente fragmentada, sofre um declínio de ocupação e qualidade de habitat.
Assim como os tamanduás e tatus, ela pertence a uma ordem muito antiga, com mais de 65 milhões de anos e são animais exclusivos da América Latina, além de possuírem enorme importância evolutiva. Para a coordenadora, isso justifica todo o esforço de conservação e, para isso, falta estudo e divulgação da espécie.
A expedição
Atrás de novas informações que possam embasar iniciativas para a preservação da preguiça de coleira, além de estudar a própria espécie, o Projeto Preguiça de Coleira vem há mais de dois anos mapeando espécimes por toda a região da Reserva Sapiranga. Na Praia do Forte, localizada na Reserva, os estudos consistem em levantamentos de densidade populacional: é feita a captura dos animais para coleta de amostra biológica, que será usada para inspeção de saúde. Nela, são feitos diversos exames e análise genética, além da instalação de um rádio para o monitoramento da área de vida, uso de espaço e dieta.
Agora, com a nova expedição, será possível estudar a espécie em outra região e aumentar o campo de análise. Para isso, a equipe pretende viajar até Sergipe. A jornada começou na região de Mata de São João, onde ficaram, do dia 30 de setembro a 2 de outubro, catalogando os animais existentes na região da Reserva Sapiranga. Em seguida, os expedicionários seguem para a região do Conde, na divisa da Bahia com Sergipe, onde ficam até segunda-feira (11).
Com uma equipe formada por sete pessoas, o projeto é comandado pelo Instituto Tamanduá em parceria com a Concessionária Litoral Norte (CLN), uma empresa do Grupo Invepar. Entre os expedicionários estão funcionários de ambas as organizações, além de especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e por Adriano Gambarini, fotógrafo da National Geographic e colunista de ((o))eco, que documenta a viagem.
Fonte: O Eco
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