A população de saíra-apunhalada é estimada em 11 indivíduos, por isso, garantir a segurança dos dois ninhos encontrados é a missão dos pesquisadores, que lutam para garantir a sobrevivência da espécie
Com uma população de apenas 11 indivíduos maduros, a saíra-apunhalada é considerada uma das aves mais ameaçadas do mundo e, por isso, também uma das mais raras. Seu habitat é restrito a uma faixa de Mata Atlântica de altitude de aproximadamente 400 hectares nas montanhas no Espírito Santo e, desde 2016, pesquisadores atuam para garantir a sobrevivência da espécie. Uma das estratégias adotadas pela equipe do Instituto Marcos Daniel (IMD), que coordena o programa de conservação da ave, é identificar e proteger os ninhos das saíras-apunhaladas. Em 2020, um único ninho foi encontrado – e protegido pelos pesquisadores para garantir o sucesso reprodutivo. Deu certo e mais dois filhotes de saíra nasceram e se juntaram à pequena população da ave. Neste ano, dois ninhos foram encontrados e os cientistas irão repetir a fórmula bem-sucedida da vigília constante para garantir que outros filhotes se somem ao bando.
A ecologia reprodutiva da saíra-apunhalada (Nemosia rourei) não facilita muito a expansão populacional. A ave constrói seu ninho uma única vez por ano, entre setembro e dezembro, e todos os membros do bando (de 5 a 6 indivíduos) se unem para cuidar juntos de um único ninho por vez. Com isso, cada bando produz um único ninho por ano, que gera apenas dois filhotes. Ou seja, a taxa de crescimento populacional da espécie é bem lenta e cada indivíduo conta. Por isso, os pesquisadores do IMD comemoraram a descoberta de dois ninhos da espécie. É a primeira vez que a equipe registra um ninho em cada uma das áreas de ocorrência, um na Reserva Biológica Augusto Ruschi, no município de Santa Teresa, e outro na Mata de Caetés, divisa entre os municípios de Castelo e Vargem Alta.
Para garantir que os preciosos ninhos e filhotes estarão a salvo de predadores e outras ameaças, inclusive humanas, os pesquisadores montaram uma vigília que seguirá ininterrupta ao lado de cada um dos ninhos. Quando os filhotes deixarem o ninho, a equipe continuará de olho através do monitoramento diário do bando até a próxima temporada reprodutiva, na primavera seguinte.
“É um trabalho árduo, feito dia a dia por pessoas extremamente apaixonadas pela proteção das espécies ameaçadas e especialmente dessa que é a única ave que só existe aqui no Espírito Santo. Se não conseguirmos reverter sua situação, ela desaparecerá do planeta.” alerta Marcelo Renan de Deus Santos, coordenador geral do Programa de Conservação da Saíra Apunhalada (PCSA) e presidente do IMD.
Apesar de lento, é de ninho em ninho e filhote em filhote que os pesquisadores esperam aumentar a população de saíra-apunhalada e salvá-la da extinção. “Se a gente conseguir garantir que esses dois indivíduos que nascem na temporada reprodutiva sobrevivam, com o passar do tempo vamos começar a ter o aumento populacional, principalmente se esses bandos começarem a aumentar e se dividirem, porque aí vamos começar a ter mais ninhos simultaneamente. O fundamental em termos de ação direta é essa proteção dos ninhos e garantia da proteção da espécie. Nós temos uma equipe de 16 biólogos para conseguir acompanhar as aves e monitorar os ninhos. É um trabalho intenso, com um resultado que a gente entende que é pequeno e de longo prazo, que exige muita perseverança, porque é de 2 em 2 filhotes que eles vão chegar em 200 e garantir a sobrevivência da espécie”, explicou Marcelo em entrevista dada ao ((o))eco em maio deste ano.
Fonte: O Eco
Comentários