José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Espécies exóticas invasoras são causadoras de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos. Um exemplo, entre muitos, é a gramínea braquiária – de origem africana e introduzida no Brasil para formação de pastagens destinadas à criação de gado bovino –, que se tornou uma grande ameaça para a sobrevivência de espécies nativas e a biodiversidade em várias escalas espaciais.
A erradicação completa de espécies exóticas invasoras é frequentemente inviável. E tentativas feitas nesse sentido já produziram resultados indesejados e até mesmo prejudiciais, porque a simples retirada da espécie exótica invasora não reconstitui o ambiente – como, por exemplo, em áreas de Cerrado invadidas por pinheiros. Por isso, considerando que espécies exóticas invasoras que não podem ser erradicadas precisam ser administradas continuamente, pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile e Reino Unido definiram os eixos estratégicos para uma política nesse sentido, com foco na mitigação dos impactos, mais do que na eliminação das espécies.
O projeto resultante, que recebeu o nome de CONTAIN (“conter” em inglês), surgiu a partir de uma chamada de propostas lançada em 2018 por acordo de cooperação entre a FAPESP; o Natural Environment Research Council (NERC), o UK Research and Innovation (UKRI) e o Newton Fund (NF), do Reino Unido; o Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet), da Argentina; a Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica (Conicyt), do Chile; e o Consejo Nacional de Ciencia, Tecnología e Innovación Tecnológica (Concytec), do Peru.
A iniciativa busca estabelecer e desenvolver ferramentas de manejo que permitam otimizar o controle de espécies exóticas invasoras em horizontes de médio e longo prazo. A participação do grupo brasileiro, sediado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), é coordenada por Alessandra Fidelis, professora do Instituto de Biociências, no campus de Rio Claro.
Um estudo elaborado pelos integrantes do CONTAIN foi publicado no periódico BioScience. O trabalho contou com apoio da FAPESP por meio do projeto “Uso do manejo adaptativo na otimização do manejo a longo prazo de espécies invasoras prejudiciais à biodiversidade e economia rural”, conduzido por Fidelis.
“Nosso estudo procurou contemplar não apenas as invasões em si, mas também traçar diretrizes para a interação com gestores, tendo o objetivo de conter a proliferação das espécies e mitigar seus impactos”, diz a pesquisadora à Agência FAPESP.
O estudo utilizou como definição de espécies exóticas invasoras aquelas que “transitam com sucesso pelos três estágios iniciais de invasão [transporte, introdução e estabelecimento] e, subsequentemente, estabelecem múltiplas populações autossustentáveis, compostas por indivíduos que se reproduzem, sobrevivem e se dispersam, em uma paisagem além da sua distribuição nativa”. E indicou que um subconjunto delas “produz uma gama de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos em várias escalas espaciais”.
Nesse vasto subconjunto, foram enfocadas as seguintes espécies exóticas invasoras: no Brasil, a braquiária e outras gramíneas de origem africana (introduzidas para o plantio de pastagens destinadas à alimentação de rebanhos bovinos) e as árvores do gênero Pinus (introduzidas do hemisfério norte para a produção de polpa e resina); na Argentina, o mamífero de origem norte-americana mink (também chamado de vison e introduzido para a produção de peles) e as árvores dos gêneros Pinus e Ligustrum (de origem asiática e utilizada em arborização); no Chile, o pinheiro, o mink e a vespa de jaqueta amarela (de origem asiática).
“Definimos seis critérios de planejamento para mitigar os impactos. Os três primeiros configuram um levantamento detalhado da situação: mapear a presença da espécie exótica invasora na região e sua distribuição espacial; investigar por quanto tempo essa invasora está presente; avaliar o que sabemos sobre os impactos causados por ela”, informa Fidelis.
E prossegue. “Os três critérios seguintes dizem respeito à resposta que podemos dar a essa situação: que tipos de intervenções são factíveis, do ponto de vista técnico, social e econômico; que consequências negativas essas intervenções podem acarretar; fazer o balanço dos custos e benefícios das intervenções e das consequências.”
A atual pandemia já explicitou com clareza meridiana os riscos que a degradação dos ambientes naturais pode causar. E a urgência da adoção de políticas de controle e mitigação bem embasadas em conhecimentos científicos. “No caso das espécies enfocadas por nosso estudo, temos um motivo a mais, e um motivo bastante forte, para implementar essas políticas, pois foi descoberto que o mink é transmissor do novo coronavírus”, comenta Fidelis.
Evidentemente, tudo isso só será efetivo se os conhecimentos gerados nas universidades e nos institutos de pesquisa transbordarem o ambiente acadêmico e forem abraçados pela sociedade, em especial pelos gestores, públicos e privados.
O artigo Management policies for invasive alien species: addressing the impacts rather than the species pode ser acessado em https://doi.org/10.1093/biosci/biaa139.
Fonte: Agência FAPESP
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