Com a saída de Ricardo Salles, o governo Bolsonaro espera retomar negociações ambientais com outros países, travadas por conta das encrencas causadas pelo ex-ministro. Segundo escrevem Marina Dias e Ricardo Della Coletta na Folha, o governo dos EUA espera que as conversas com o Brasil sejam retomadas nas próximas semanas.
Para a Casa Branca, a saída de Salles permite ao menos voltar à mesa de negociação, já que a postura do ex-ministro era tida como “pouco construtiva”. Ao mesmo tempo, os norte-americanos não acreditam que o novo ministro, Joaquim Álvaro Pereira Leite, produza mudanças significativas na política ambiental, em grande parte por conta da inexpressividade política e das similaridades de perfil entre ele e Salles.
No UOL, Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade mostraram as tentativas do embaixador brasileiro na Noruega, Enio Cordeiro, em retomar a cooperação ambiental com o país europeu. Em telegrama ao ministério do meio ambiente norueguês enviado no mês passado, Cordeiro sugeriu que as duas nações reativassem “discretamente” os esforços para que a pauta ambiental volte a ser um “pilar” da relação entre os dois países. A Noruega foi a principal financiadora do Fundo Amazônia, congelado em 2019 devido à desavenças entre Salles e os doadores acerca da governança e do uso dos recursos por parte do Brasil.
Os primeiros dias de ministro de Joaquim Leite foram discretos. Sem entrevistas nem declarações públicas, ele manteve a equipe que acompanhou Salles nos últimos meses. A única mudança até agora foi pontual, mas relacionada aos processos judiciais enfrentados pelo ex-ministro: o major da PM paulista, Olivaldi Azevedo, foi retirado da linha sucessória da Secretaria de Biodiversidade do ministério, onde ele ocupa o posto de secretário-adjunto. Azevedo é investigado junto com Salles por envolvimento em um esquema de contrabando de madeira ilegal da Amazônia. O Globo e Poder360 repercutiram a mudança.
E por falar em madeira, Diogo Schelp revelou no UOL que o novo ministro tem larga experiência no ramo: foi diretor de uma madeireira amazônica dedicada ao manejo florestal e à venda de créditos de carbono entre 2011 e 2017. Ao entrar no ministério, em 2019, Joaquim Leite levou ex-colegas para auxiliá-lo no governo, especialmente na área de certificação e créditos de carbono.
Sobre as expectativas em torno da nova gestão do meio ambiente, Daniela Chiaretti escreveu no Valor que as organizações ambientalistas brasileiras enxergam com cautela a possibilidade de mudanças na política ambiental. No Estadão, Suely Araújo e Marcio Astrini (Observatório do Clima) explicam o ceticismo. “A gestão do novo chefe do meio ambiente deve seguir a escrita já vista em trocas como as da educação, da saúde e da cultura: a estridência do ministro diminui, mas a política de desmonte da pasta continua igual. Afinal, quem manda é Jair Bolsonaro”.
Fonte: ClimaInfo
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