Sentindo cheiro de queimado (ou será queimada?) no futuro das relações com os EUA, Mourão entrou em campo para tentar atenuar o mau humor do novo governo norte-americano com a política antiambiental do Brasil. Na 6ª feira (5/2), ele se reuniu com o embaixador de Washington no Brasil, Todd Chapman, no primeiro encontro de alto nível entre autoridades dos dois países desde a posse de Joe Biden no comando da Casa Branca.
Segundo Chapman, a questão ambiental foi um dos pontos da conversa. “Realmente a administração do meu novo presidente Biden está enfatizando muito a importância da mudança do clima”, afirmou o embaixador à imprensa depois da reunião. “O que é evidente é que vamos aumentar nosso interesse em trabalhar com o Brasil na área de mudança do clima”. Já Mourão reforçou o tom amigável que o governo Bolsonaro vem tentando imprimir no diálogo com Biden, depois de muita troca de farpas. O vice destacou o diálogo entre os dois governos e a disposição do seu governo em esclarecer eventuais preocupações de Washington com a situação ambiental no Brasil. Exame, G1 e O Globo repercutiram o encontro.
Na semana passada, dois documentos foram encaminhados a Biden com recomendações para reorientar as relações com o Brasil. Primeiro, um grupo de ex-negociadores climáticos norte-americanos propôs a imposição de barreiras para a importação de produtos associados ao desmatamento na Amazônia como forma de pressionar o governo brasileiro pela proteção da floresta. Depois, um dossiê assinado por acadêmicos e ativistas dos EUA pediu o congelamento de acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil de Bolsonaro. Em entrevista dada à Época, o historiador e brasilianista James Naylor Green, da Universidade de Brown, um dos signatários do dossiê, foi contundente: “Bolsonaro está cada vez mais isolado em sua política internacional”. Nesse ponto, vale ressaltar que, já após duas semanas na Casa Branca, o presidente brasileiro não foi contatado por Biden, o que demonstra o desprestígio de Bolsonaro em Washington.
Em tempo 1: Nem mesmo toda a lábia de Mourão é capaz de esconder a dura realidade: sob Bolsonaro, a gestão ambiental vive um desmonte. Na BBC Brasil, André Shalders mostrou que a área ambiental do governo federal perdeu quase 10% dos servidores nos últimos dois anos. Em 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro tomou posse, tanto o ministério do meio ambiente como suas autarquias e órgãos ambientais somavam 5.794 servidores ativos. Na semana passada, esse total tinha caído para 5.216 servidores, uma redução de 9,97% (578 a menos).
Em tempo 2: “O processo de savanização da floresta [Amazônica] já iniciou. Temos que parar o desmatamento já e começar a reflorestar”, alertou Carlos Nobre em entrevista a Daniela Chiaretti no Valor. Uma das maiores autoridades científicas na área climática no Brasil, Nobre destacou que a intensificação do desmatamento na Amazônia já está interferindo nos padrões climáticos no Brasil e que, a cada hectare a mais de floresta derrubada, estamos nos aproximando de um “ponto de não-retorno” da destruição. “Temos que zerar o desmatamento em no máximo cinco anos. Zerar. Zerar. Zerar”.
Fonte: ClimaInfo
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