Depois de passar anos atacando ambientalistas, com direito a chamá-los de “câncer” na Amazônia, Bolsonaro & Cia. tiveram que dar o braço a torcer e tentar um diálogo minimamente respeitoso – bem, pelo menos, nos Estados Unidos. Leonardo Sakamoto destacou no UOL que o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Forster, realizou encontro com representantes de organizações não-governamentais de meio ambiente norte-americanas no último dia 19, pouco antes da posse de Joe Biden como presidente do país. A reunião teve como objetivo “colher sugestões e discutir oportunidades para a relação entre Brasil e Estados Unidos na área de meio ambiente”.
Esse episódio, incomum em um governo marcado pela retórica antiambientalista, também foi peculiar por causa da presença de Forster, diplomata próximo do chanceler Ernesto Araújo e amigo pessoal do infame Olavo de Carvalho. Sakamoto ressaltou que o tom do embaixador na conversa foi “amistoso”, bem distante da retórica confrontativa do Brasil de Bolsonaro.
Segundo a reportagem, as ONGs participantes do encontro – entre elas, World Resources Institute (WRI), WWF, Nature Conservancy e Environmental Defense Fund (EDF) – ressaltaram a preocupação com a situação dos Povos Indígenas e Comunidades Quilombolas no Brasil, além do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Outro tópico foi a questão climática, ponto estratégico para a política externa dos EUA sob Biden e potencial pedra no sapato nas relações bilaterais com o Brasil.
O encontro com ambientalistas é uma tentativa do governo Bolsonaro de atenuar as pressões internacionais crescentes que o Brasil está enfrentando por conta do desastre ambiental promovido pela atual administração federal. Nesse ponto, dois artigos interessantes publicados pelo Estadão desdobram as dificuldades que o país deve encarar nesse redesenho de sua política externa. Primeiro, Hussein Kalout ressaltou que qualquer medida que não passe pela defenestração de Araújo e Ricardo Salles – e, potencialmente, do próprio Bolsonaro – será meramente cosmética e não conseguirá reverter o mau-humor internacional com o Brasil. Segundo, o embaixador Rubens Barbosa analisou a carta de Bolsonaro para Biden, destacando o teor ameno do texto e algumas insinuações de mudança (e de tensão) escondidas em suas entrelinhas. Ainda assim, o diagnóstico é parecido com o do artigo de Kalout: o diálogo entre os dois governos será bastante complicado.
Fonte: ClimaInfo
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