“No Amazonas, faltou em 2020 esta descoberta: afinal, o que nos une? A torcida é que saiamos dos falatórios e passemos para a ação. O exemplo da vacina está aí, para quem quiser ver, quer isso confirme ou refute suas crenças. Uma pena que as pessoas só prestem atenção naquilo que confirma suas crenças”.
Augusto César Barreto Rocha
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A dificuldade é ótima para unir as pessoas. As grandes prosperidades provocam mais separações do que seu oposto. Como o ano de 2020 foi de enormes dificuldades e desafios, voltamos a nos unir por objetivos maiores e a grande vitória do ano foi um esforço multinacional, multicultural, de múltiplas empresas e diferentes instituições. Não houve um inventor solitário ou empresa que fez A vacina – além de múltiplos vencedores, em todos os casos foram joint ventures ou parcerias, que conjugaram esforços de diferentes origens: Pfizer (EUA)+BioNTech (Alemanha), Moderna (EUA) que comprou empresa francesa e possui presidente francês, Sinovac, empresa chinesa, que usou processo sueco no seu desenvolvimento, com testes em diferentes países, localizados na Ásia e nas Américas.
Mesmo que alguns reneguem, a chegada destas e de outras vacinas, que estão em fase final de elaboração, demonstrou a importância da ciência e de redes interconectadas, multinacionalmente, multiculturalmente para a construção das soluções para os grandes problemas humanos. Onde existiu união e diversidade, há confiança. Onde há isolamento e baixa transparência, há desconfiança. Ou seja, a saída para grandes problemas pode vir da união por propósitos em comum, como evidenciado no caso da pandemia.
Por aqui a história é outra. Seguimos sem uma pauta que unifique os objetivos e os desafios da Amazônia ou do Amazonas. As propostas de uso dos recursos da região seguem sendo elaboradas sem as pessoas da região, como sempre. As nossas propostas seguem sendo feitas solitariamente e, consequentemente, não são ecoadas por ninguém, como sempre. Vez por outra fazemos algumas propostas que são apropriadas por outros, como se as ideias deles fossem e sem qualquer conteúdo adicional ao que propusemos, também como sempre. Ou seja, seguimos sem aprender com os erros do passado ou com o acerto dos outros.
Mesmo contemplando Índices de Desenvolvimento Humano minúsculos, pouquíssima infraestrutura, ataques contra a Zona Franca de Manaus, obras que nunca acabam, seguimos isolados e separados. Parece que ainda não chegou “A CRISE” que nos unirá, pois há andares de nosso edifício onde a prosperidade impera, enquanto há outros em que sequer possui água potável, no centro da maior bacia hidrográfica do mundo. Enquanto isso, existem alguns de nós que chegam a acreditar e declarar, sem vergonha, que as queimadas são boas e necessárias, mesmo que a ciência os refute. O mesmo padrão de pensamento terraplanista que ignora a pandemia e que não quer lutar contra a morte, onde a abordagem prescreve a inutilidade de vacinas e a naturalidade de 186 mil mortes por um vírus já identificado.
2020 foi um ano de reaprendizado para muitos de nós da importância da união. Isso é uma ótima lição: se soubermos encontrar uma frente que una nossa sociedade Amazônica em torno de um objetivo, poderemos ter um futuro brilhante. Caso sigamos achando que estamos bem, sem estar, o futuro só nos reserva mais cinzas e mais comando externo e espoliação, com menos desenvolvimento humano, menos prosperidade, até o momento em que cheguemos a um “basta”, revertendo este apequenamento histórico, que nos faz dormir no meio da maior riqueza da biodiversidade do planeta, que deveria ser o principal polo de desenvolvimento econômico do mundo. No Amazonas, faltou em 2020 esta descoberta: afinal, o que nos une? A torcida é que saiamos dos falatórios e passemos para a ação. O exemplo da vacina está aí, para quem quiser ver, quer isso confirme ou refute suas crenças. Uma pena que as pessoas só prestem atenção naquilo que confirma suas crenças.
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