Os empresários do Polo Industrial de Manaus reagiram de forma negativa aos comentários do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos criticaram, no entanto, o modelo de incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus (ZFM).
O presidente da Eletros, Jorge Júnior (foto), disse ao BNC Amazonas que o debate tem reflexos econômicos e políticos. Pois, de acordo com ele, traz mais insegurança à Zona Franca de Manaus.
O executivo do setor eletroeletrônico também cobrou uma posição firme da bancada amazonense no Congresso Nacional.
Pediu, sobremaneira, posição dos candidatos a prefeito de Manaus que afirmam ser representantes do governo Bolsonaro nessa eleição.
Em live promovida pelo Poder360, ocorrida na noite de ontem (quarta-feira, dia 14), Maia e Guedes subestimaram a ZFM.
Dessa forma, ambos defenderam tanto o fim quanto os limites dos subsídios às empresas brasileiras. E a ZFM, portanto, foi citada na conversa.
“É óbvio que o sistema tributário brasileiro é complexo e tem muitas distorções. Se os empresários vão pressionar desse jeito, a gente podia avançar na administrativa e propor o fim de todos os incentivos tributários. Seria uma boa contribuição dos empresários brasileiros que recebem incentivos, na sua maior parte, de forma distorcida e com pouco benefício para a sociedade”, declarou o presidente da Câmara.
Paulo Guedes afirmou que concorda em parte com o deputado, apontando que ambos têm muitas convergências. E lembraram, contudo, que, só em 2019, o governo federal concedeu R$ 348,3 bilhões em subsídios.
Guedes, por sua vez, foi mais cauteloso do que Maia ao lembrar dos problemas e citou a Zona Franca de Manaus como exemplo.
“Hoje, se levar os subsídios para zero eu vou quebrar a Zona Franca de Manaus. Mas não deixa crescer isso”. Em seguida, completou: “Daqui para frente, vamos trabalhar com um futuro diferente”.
Capital mundial de economia sustentável
Na visão de Paulo Guedes, no entanto, o Brasil precisa investir na atração de novos empreendimentos. E apontou como exemplo os Estados Unidos.
“Se os americanos conseguiram transformar o deserto de Nevada em Los Angeles, a capital mundial do entretenimento, Las Vegas, vamos transformar aquilo ali [Manaus] na capital mundial de economia sustentável, com biofármacos”, declarou o ministro.
Guedes citou, ainda, exemplos de multinacionais, como a Amazon e a Tesla. A primeira, é uma companhia digital. Já a segunda, é de energia elétrica “e não tem nada de energia suja”.
“Vamos desenhar um futuro diferente para a Amazônia”, disse Guedes ao descartar que Manaus seja transformada em São Paulo. Para o ministro, portanto, “São Paulo é um centro industrial e um cinturão de pobreza, e miséria em volta”.
Ressalva e compromisso com o Amazonas
O deputado Marcelo Ramos (PL) observou que após a fala de Maia, Guedes logo ressalvou a ZFM. “Para nós é um gesto importante”, disse.
“O presidente Rodrigo [Maia] tem compromisso conosco, com Amazonas e quero crer que a fala dele foi apenas retórica para alertar que temos muitas desonerações que não se justificam, o que não é o caso da ZFM que se consolidou como a mais exitosa política de desenvolvimento regional do país”, disse Marcelo Ramos.
O coordenador da bancada do Amazonas, senador Omar Aziz (PSD-AM), não acredita na aprovação de nenhuma reforma neste ano.
Para ele, no ano que vem, será necessário que tanto o novo presidente da Câmara e quanto do Senado se comprometam com a Zona Franca de Manaus.
Críticas extremamente preocupantes
A fala de Maia e Guedes preocupou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Júnior.
Em sua análise, economicamente, esse é mais um discurso, com críticas à ZFM, de dois personagens que estão à frente da reforma tributária.
“Essas críticas são extremamente preocupantes porque os dois querem a reforma esse ano, o que deve sair de forma atropelada, sem muita discussão já que o Rodrigo Maia quer ser o protagonista das reformas. E o que a gente ouve é que ele vai fazer de tudo para votar ainda esse ano. E para que isso ocorra, vai ter que atropelar o processo, sem muita discussão. Então, essa é a intenção deles. Se tiver que passar por cima da Zona Franca, eles vão passar”, declarou Jorge Júnior.
O representante das indústrias analisa ainda que, politicamente, esse açodamento de Maia pode não ter efeitos positivos. E entende porque precisa haver discussão, debate do assunto. E essa seria a visão da própria bancada do Amazonas no Congresso,
“Só que tanto na Comissão Especial da Reforma Tributária quanto no plenário pouca gente sabe o que é o tema e vão querer seguir o que o Rodrigo Maia propuser e talvez a nossa bancada seja engolida”, ressalva o presidente da Eletros.
Eleições e Zona Franca
No âmbito da política local, Jorge Júnior cita os candidatos a prefeito de Manaus, como o Coronel Menezes (ex-superintendente da Suframa) e o deputado Capitão Alberto Neto (Republicanos), que se dizem os representantes do governo Bolsonaro.
Esses dois candidatos poderiam ajudar na interlocução no governo em favor da Zona Franca de Manaus.
De acordo com o executivo, o candidato a prefeito, deputado José Ricardo (PT-AM), é um dos que podem se promover nesse debate. De acordo com Júnior, “foi nos governos do PT que a ZFM teve sua maior estabilidade, segurança, investimento e hoje está nessa insegurança o tempo todo”.
Fonte: CIEAM
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