A expertise científica de quase seis décadas do INPE, que vem servindo especialmente nos últimos 15 anos para monitorar o desmatamento da Amazônia via satélite, parece não ter relevância para Mourão. Em mais um capítulo da novela “Atire no mensageiro”, o vice defendeu a revisão dos dados sobre queimadas e a criação de uma nova agência para coordenar os sistemas de monitoramento espacial da Floresta Amazônica no Brasil.
Em artigo divulgado em seu Twitter, Mourão disse que os dados levantados pelo INPE sobre queimadas na Amazônia são inadequados, por não diferenciarem os diferentes tipos de focos de calor. Segundo ele, os incêndios florestais amazônicos existem, mas não são do “padrão Califórnia ou Austrália”, e defendeu uma “análise qualitativa” das informações relacionadas ao fogo na Amazônia, para que estes sejam “a expressão da verdade”.
Na 6ª feira (18/9), o general-vice chegou a propor a criação de uma nova agência para concentrar os sistemas de monitoramento via satélite da Amazônia, a exemplo do National Reconnaissance Office (NRO) dos EUA. Mas, como disse o ex-diretor do INPE, Gilberto Câmara, em seu perfil no Twitter, a NRO é exclusivamente militar, sendo que a contraparte do INPE nos EUA seria a NASA. À Deutsche Welle, Câmara afirmou que a negação de Bolsonaro, Mourão & Cia. sobre a realidade das queimadas na Amazônia “é mais uma tentativa de desviar o foco sobre a própria incompetência do governo de agir”.
Folha, G1, O Globo, Reuters e UOL repercutiram os ataques de Mourão ao INPE.
Em tempo: O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a suspensão do contrato recém-assinado pela Polícia Federal (PF) com a empresa Planet para uso de um novo sistema de monitoramento da Amazônia via satélite, ao custo de R$ 49 milhões. Na decisão, a ministra Ana Arraes afirma que análises técnicas do TCU indicam que a operação “não agregaria vantagem alguma que já não fosse oferecida pelo monitoramento desenvolvido pelo INPE”. A PF alega que o INPE ofereceria dados “insuficientes”, e compara a reação do órgão à dos taxistas contrários aos aplicativos de transporte particular para protegerem o mercado, segundo relata a Folha.
Fonte: ClimaInfo
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