“Já sabemos o que não queremos e o projeto já se configura no formato mutirão. Cientistas, investidores, empreendedores, instituições de pesquisa, desenvolvimento e mercado, as entidades de classe e, especialmente, a representação parlamentar. Vamos encarar?”
Nelson Azevedo(*)
Quais são os desafios, em ordem prioritária, que hoje devemos enfrentar? Temos, batendo à nossa porta, as ameaças da reforma fiscal, ora sendo entregue para leões famintos querendo cuidar do pasto financeiro. Temos o desafio de mapear insumos e componentes que possam ser produzidos em Manaus. A quebra da cadeia asiática de suprimentos tem que ser revertida. A construção do Polo de Indústria da Saúde, do Lazer, do beneficiamento do pescado, da indústria de fertilizantes, das rações adequadas para a piscicultura… Essa diversificação exige que nós tenhamos liberados os respectivos PPBs, processos produtivos básicos, decididos em Brasília, sem os quais não podemos produzir nada…. Que tal trabalharmos para remover esse entulho burocrático e embargo disfarçado de novos projetos para a Zona Franca de Manaus?
Prestação de contas
Temos, também, que cuidar da nossa interlocução nacional, e continuar a dizer ao contribuinte que, com 8% da contrapartida fiscal, em vez de reduzir as desigualdades regionais, o país nos transformou no Baú da Felicidade tributária. E isso é imoral e inconstitucional. Proporcionalmente, somos o Estado que mais recolhe do que recebe da União. Os recursos gerados pela indústria devem ser utilizados para a redução das desigualdades regionais. Ou seja, financiamento de uma infraestrutura compatível com as dimensões da Indústria existente em Manaus e que atenda a diversificação das atividades econômicas. Só assim poderemos avançar na direção de um programa de biotecnologia, na produção de alimentos funcionais, dermocosméticos e medicamentos e na exploração sustentável dos recursos minerais. Afinal, a quem compete a gestão da Amazônia?
Os especialistas de orelhada…
Cobram do programa Zona Franca de Manaus a diversificação e regionalização da economia. Ao mesmo tempo, confiscam as verbas destinadas a concretização dessas cobranças. Isso nos obriga a ser mais protagonistas. Se não fizermos, eles vão querer fazer por nós. Do jeito de sempre, desconhecendo nossa realidade, subestimando nossas capacidades instaladas, com soluções cinicamente messiânicas adequadas para bafejar vaidades em vez de agregar oportunidades. Assim operam os salvadores da pátria. Os especialistas de orelhada, que desconhecem Samuel Benchimol e jamais folhearam Bertha Becker ou Aziz Ab’Saber…
Maior desafio
Certamente, entre todos, este é o nosso maior desafio. Sair da zona do (des) conforto e assumir as rédeas da gestão em mutirão regional. Uma das iniciativas é amobilização da bancada parlamentar do Amazonas visando a formatação de uma frente ampla parlamentar da região, unindo o Grao-Parã e Rio Negro do Século XIX, mais os estados da Amazônia Legal. Este é, sem dúvida, o caminho mais ágil e mais efetivo de construir um programa regional e integrado de Desenvolvimento, com demonstrações inequívocas de que sabemos o cenário de desenvolvimento regional que queremos, nosso projeto de manejo inteligente e coerente de manejar e proteger a floresta e promover a prosperidade de nossos irmãos esquecidos.
Quem quiser entre na roda
Isso significa que precisamos planejar de forma integrada definindo com clareza e propósitos o que cada um sabe e quer fazer neste mutirão de um Brasil amazônico. No âmbito industrial, poderíamos expandir a diversificação de produtos que inovem a vocação dos negócios de cada Estado. Há uma indústria de drones que pode inovar no controle e monitoramento da agroindústria regional, da pecuária de leite e corte. Esses drones e um conjunto diversificado de protótipos nesta finalidade estão disponíveis na Embrapa Instrumentação no Estado de São Paulo. Quem quiser, traga sua contribuição, desprovida de bajulação, e entre na roda.
Governança regional e representativa
Com esse projeto regional bem costurado, a Bancada da Amazônia, protagonista e amparada politicamente, poderia legislar, já na Reforma Fiscal, uma modalidade tributária ajustada a nossas demandas e operações. Isso permitiria, também, por legislação, que toda riqueza aqui gerada fosse aqui, na Amazônia, aplicada. E os Orçamentos de cada ano se pautassem pelo programa de desenvolvimento regional, desenhado e executado por uma governança representativa e politicamente ativa da Amazônia. Essa ideia não é nova nem original, mas se impõe com caráter crucial e emergente. Aqui não há vaga para amadores. Sejam bem-vindos os investidores da sustentabilidade e profissionais da prosperidade. De resto, quem sabe cuidar da gente é quem conhece as necessidades de nossa população. Por isso, duvidamos das tutelas e nos incomoda soluções messiânicas dos gabinetes sem vivência nem competências que a Amazônia precisa. Já sabemos o que não queremos e o projeto já se configura no formato mutirão. Cientistas, investidores, empreendedores, instituições de pesquisa, desenvolvimento e mercado, as entidades de classe e, especialmente, a representação parlamentar. Vamos encarar?
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