Foto: Gisele Alfaia
Augusto César Barreto Rocha (*)
O Colonialismo contemporâneo deixa de ser o modelo que foi adotado no passado e toma outros contornos. A forma que mais me salta aos olhos é o que vem sendo chamado de “Colônia Digital”, onde grandes corporações tomam o controle de nossos dados e informações por meio da Internet. Daí passam a controlar nossos pensamentos e ações.
O uso extensivo de comunicações por meio de WhatsApp, Google Maps Timeline e outras ferramentas digitais, onde é possível rastrear onde a pessoa esteve ao longo dos seus dias, leva a uma possibilidade de vigilância prevista na literatura ficcional, mas ainda nada resolvida na vida prática.Corporações como Apple, Facebook, Huawei, Microsoft e outras estão tomando conta deste ambiente.
Os países estão com dificuldade de construir legislações que mantenham as privacidades e estas companhias estão gerenciando enormes quantidades de recursos de pesquisa & desenvolvimento e aplicando intensivamente para encontrar novas formas de ganhar dinheiro. Some-se a isso a dificuldade de recolher impostos destas empresas, com subsidiárias em paraísos fiscais.Faltam-nos empresas nacionais neste setor e quando elas surgem e ganham algum destaque são compradas pelas multinacionais. O mesmo já aconteceu no Brasil com em outros setores, como a Troller no setor automobilístico ou o caso mais recente da Embraer, que foi adquirida pela Boeing. Não há muito como evitar, pelo nosso baixo dinamismo econômico, onde, por exemplo, a 99 foi adquirida pela chinesa Didi. Este novo colonialismo poderá trazer resultados muito distintos do passado, pois a liberdade individual e as oportunidades de mercado são completamente diferentes.
Na nossa região, ainda temos dificuldade de superar o colonialismo anterior. Com a sociedade se comunicando por meio de ambientes controlados por multinacionais, que manipulam com facilidade o sentimento da sociedade e as pessoas ainda acreditam que pensam por si.Romper esta situação provavelmente será mais difícil que no passado. Precisaremos de muita atenção e pesquisadores locais.
As diretrizes atuais do Ministério da Educação e da imprensa com respeito ao assunto passa bem longe destas reflexões. Por vezes fico com a impressão de que as pessoas estão em um mundo muito distante da realidade, ou serei eu?Governos do mundo inteiro falam muito disso. A imprensa internacional fala muito disso. Não vejo reflexões por aqui em relação ao tema. Continuamos com discussões de pequenos problemas e sequer conseguimos considerar a ciência para a organização de linhas de ônibus nas cidades. Empresas nacionais do setor de tecnologia já perceberam esta oportunidade e se verificam movimentos que possuem o potencial criar força neste setor. Iniciativas como o Polo Digital de Manaus, são superinteressantes e trazem um grande potencial. Todavia, se ela for sempre conectada com multinacionais e distante das características e recursos regionais seguiremos tendo casos de sucesso para os empreendedores e de fracasso para o rompimento desta lógica, como nos casos mencionados.
A criação e apoio de competências tecnológicas associados com a dinâmica local é uma realização urgente para todos nós. Este tema precisa entrar na pauta das ações, para que não sejamos em poucos anos uma colônia de escravos fornecedora de recursos da floresta. Será que temos uma intenção diferente? Hoje, sequer estamos usando ciência para controle de tempo de semáforos em tempo real, imagine só enfrentar estas questões mais complexas, onde ninguém sabe a solução.
(*) Professor da UFAM.
Comentários