Enquanto a temporada eleitoral avança, é imperativo que os eleitores questionem, investiguem e demandem transparência e comprometimento dos candidatos. O exercício da cidadania municipal depende do engajamento ativo da sociedade em buscar soluções concretas para os problemas crônicos que afligem nossa cidade, transformando o exercício do voto em uma ferramenta poderosa para a mudança urbana, social e ambiental.
Por Belmiro Vianez Filho
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À medida que a temporada eleitoral se ensaia, uma questão permanece constante: as eleições, decididamente, acabam com o anúncio da justiça? Todos sabemos a resposta. No Brasil, com pleitos a cada dois anos, observa-se uma classe política, frequentemente, mais focada em campanhas e reeleições do que em atender ao interesse público. Este cenário deixa transparecer um descompasso entre as obrigações políticas e as demandas da cidadania, especialmente no âmbito municipal. Isso se dá no Amazonas, Paraná ou Piauí… E que podemos fazer se somos nós que decidimos quem e o quê queremos da representação política?
Eleitores, por outro lado, como autênticos jogadores de várzea, enfrentam desafios em “gramados” muitas vezes esburacados e desprovidos de estrutura adequada, simbolizando as dificuldades urbanas cotidianas de todo o sempre. Neste contexto, a defasagem entre os impostos arrecadados e os serviços públicos efetivamente prestados ao cidadão se destaca de maneira alarmante. O Brasil, com seus municípios e estados, figura entre os campeões mundiais desse desequilíbrio fiscal, evidenciando uma discrepância acentuada entre contribuição e retorno.
No cerne das eleições municipais, a discussão se amplia para questões cruciais como a satisfação dos cidadãos com os serviços de mobilidade urbana, saneamento básico, segurança, moradia, cobertura vegetal, ausência de parques públicos e seguros, previsão de desastres climáticos, e qualidade do ensino e da saúde pública. A insatisfação popular é gritante, especialmente nas camadas mais desfavorecidas da sociedade, que enfrentam diretamente as consequências da má gestão e do descaso político.
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Em Manaus, a situação se agrava com problemas ambientais e de infraestrutura. A região enfrenta uma paradoxal escassez de água, da região que ostenta 20% da água doce da Terra. E, apesar de suas intensas chuvas e enchentes dos rios Amazonas, Negro e Solimões, existe a ameaça de uma nova seca, como a do ano passado. Tal cenário ressalta a negligência das agendas políticas em relação às pautas ambientais. Falta planejamento, envolvimento com o interesse da coletividade e da urbanidade.
Recentemente, a mídia nacional destacou as inaceitáveis desigualdades regionais no saneamento público, colocando Manaus, ao lado de Rio Branco e Porto Velho, como as capitais com os piores índices de tratamento de água e esgotamento sanitário do país.A falta de investimento em saneamento básico, que poderia resultar em economia na área da saúde pública, reflete uma espécie de “cegueira” da classe política. Além disso, a transformação de igarapés e rios em depósitos de lixo e esgoto evidencia a ausência de campanhas efetivas para a educação cívica e a melhoria das condições ambientais.
Diante deste cenário, a temporada eleitoral deveria iniciar com questionamentos diretos e pragmáticos sobre as ações concretas dos candidatos em áreas essenciais como saneamento básico, limpeza de igarapés e recuperação da qualidade da água. Essas perguntas não apenas iluminam o caminho para uma relação mais responsável e comprometida entre os políticos e a cidadania, mas também têm o potencial de abrir novos caminhos para o exercício pleno da cidadania municipal.
Dizendo de outro jeito, enquanto a temporada eleitoral avança, é imperativo que os eleitores questionem, investiguem e demandem transparência e comprometimento dos candidatos. O exercício da cidadania municipal depende do engajamento ativo da sociedade em buscar soluções concretas para os problemas crônicos que afligem nossa cidade, transformando o exercício do voto em uma ferramenta poderosa para a mudança urbana, social e ambiental. Ou seja, o candidato A, B, ou C fez o que poderia ser feito com a montanha de recursos financeiros que a sociedade lhe confiou?
Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio
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