Uma pesquisa divulgada pela Universidade de Chicago, por meio do Air Quality Life Index (AQLI), revelou que a poluição do ar no Brasil reduz, em média, 8,4 meses da vida de seus habitantes.
O estudo, publicado nesta quarta-feira (28), compara a qualidade do ar no país com os padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Principais ameaças à saúde no Brasil
Enquanto globalmente a poluição atmosférica é considerada a maior ameaça à saúde humana, no Brasil, outros fatores como o tabagismo e a violência ocupam posições de destaque. A poluição do ar, apesar de ser uma preocupação crescente, aparece em terceiro lugar como fator de risco para a vida dos brasileiros.
Entre as regiões mais afetadas pela má qualidade do ar, a Amazônia se destaca como um ponto crítico no cenário nacional, principalmente devido aos incêndios florestais. Somente em agosto de 2024, cerca de 2,5 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo na região, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ). Esse número é significativamente superior à média histórica para o período, que é de 1,4 milhão de hectares. Desde o início do ano, a Amazônia já contabilizou mais de 4,1 milhões de hectares atingidos por incêndios.
O AQLI destaca que a situação é particularmente grave em alguns estados da Amazônia Legal. Rondônia, por exemplo, é o estado mais afetado, com uma redução estimada de 3,2 anos na expectativa de vida de seus moradores devido à poluição do ar. No Amazonas, os níveis de poluição por partículas são 6,4 vezes superiores às diretrizes da OMS, o que pode impactar negativamente a vida da população em até 2,7 anos. No Acre, a expectativa de vida é reduzida em torno de três anos.
Esses números poderiam ser revertidos com a implementação de medidas mais eficazes de controle da poluição, especialmente relacionadas à fiscalização e manejo do fogo, além de um combate mais rigoroso ao desmatamento.
Situação em São Paulo
No estado de São Paulo, a principal fonte de poluição do ar vem do trânsito. No entanto, o estudo aponta que medidas de controle de emissões, como a inspeção veicular e o rodízio de veículos, resultaram em uma redução de 5% na concentração de partículas finas (PM2,5) na atmosfera paulistana, em comparação com a média dos últimos 15 anos. Isso reflete a eficácia de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade do ar na maior metrópole do país.
Cenário Global
Apesar de uma ligeira queda na poluição global em 2022, a pesquisa do AQLI ressalta que a poluição do ar continua a impactar significativamente a expectativa de vida em várias regiões do mundo. Se os níveis de partículas finas (PM2,5) fossem permanentemente reduzidos para os padrões estabelecidos pela OMS, a expectativa de vida global poderia aumentar em até 1,9 anos.
Apesar da significativa redução nos índices de desmatamento, as condições climáticas adversas estão intensificando o risco de incêndios florestais em 2024. A combinação de seca prolongada, temperaturas elevadas e ventos fortes resultou no maior índice de perigo de fogo em 44 anos para as regiões da Amazônia e do Pantanal. Esse índice, que mede a probabilidade de propagação de incêndios, reflete as condições extremas enfrentadas pelo bioma.
De acordo com o governo federal, entre agosto de 2023 e julho de 2024, o desmatamento na Amazônia caiu 45,7%, representando a maior queda proporcional já registrada no período. Essa redução levou à menor área sob alertas de desmatamento desde o início da série histórica, em 2016.
Além do aumento dos incêndios, o Brasil enfrenta desafios significativos no controle da qualidade do ar. O estudo Qualidade do ar em alerta, realizado pelo Instituto Alana e o Instituto Ar, comparou os episódios de poluição no Brasil com os de outros países, como Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México, Espanha, França e Inglaterra. A pesquisa concluiu que o Brasil, ao lado do Equador, enfrenta os episódios mais graves de poluição do ar.
Evangelina Araújo, pesquisadora do Instituto Ar, destacou a gravidade da situação em Manaus. “Em novembro do ano passado, a concentração de material particulado devido às queimadas chegou a 400 microgramas por metro cúbico (µg/m³), quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que esse valor não ultrapasse 45 µg/m³”, afirmou.
Normas defasadas e a necessidade de planos de ação
O estudo também revelou que os padrões de qualidade do ar no Brasil são muito permissivos. As normas atuais, estabelecidas em 1990, permitem níveis de poluentes até três vezes maiores que os recomendados pela OMS. Além disso, tanto as unidades federativas quanto o governo federal carecem de planos eficazes para emergências de poluição do ar, colocando em risco a saúde da população e o meio ambiente.
Embora a OMS não estipule padrões obrigatórios para medidas emergenciais, ela recomenda que as concentrações de material particulado fino (PM2,5) no ar não excedam 45 µg/m³ em 24 horas e 15 µg/m³ em média anual. No Brasil, os níveis aceitos são muito superiores, destacando a necessidade urgente de atualização das políticas de controle da poluição atmosférica.
*Com informações UM SÓ PLANETA
Comentários