Ministra reforça que decisão sobre perfuração na Foz do Amazonas será técnica, enquanto o país enfrenta crise ambiental com seca e incêndios
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, garantiu que o processo de licenciamento para a perfuração do primeiro poço de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, pela Petrobras, está seguindo rigorosamente os critérios técnicos. Segundo ela, pressões externas não influenciarão o andamento da aprovação, que está nas mãos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O empreendimento é considerado estratégico pela Petrobras para aumentar suas reservas, mas enfrenta questionamentos sobre seus potenciais impactos ambientais.
“Licenciamentos são processos técnicos. A área técnica tem seu tempo necessário para fazer a análise e as manifestações em bases técnicas. É assim que ocorre em um governo republicano”, afirmou Marina Silva, em evento realizado no Rio de Janeiro. A ministra participou do seminário Finanças Hoje para o Nosso Amanhã: Reorientando Finanças para a Sustentabilidade Ambiental, que ocorreu paralelamente às reuniões do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20.
A Bacia da Foz do Amazonas está localizada a 200 quilômetros da costa do Amapá e a 2.800 metros de profundidade. O licenciamento ambiental é uma etapa fundamental para que a Petrobras possa iniciar as perfurações na região, que se estende da costa do Amapá até o Rio Grande do Norte, na chamada Margem Equatorial. Apesar da importância estratégica da exploração para a estatal, o licenciamento está sendo analisado com cautela devido às preocupações ambientais.
Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçaram a relevância da exploração petrolífera na Margem Equatorial como forma de aumentar as reservas da companhia. A expectativa da Petrobras é que a licença seja concedida ainda em 2024, o que permitirá o início dos trabalhos na bacia.
No entanto, Marina Silva reafirmou que o governo federal não cederá a pressões externas:
Seca e incêndios
Além das questões relacionadas à perfuração de petróleo, Marina Silva também destacou a urgência em lidar com os impactos das mudanças climáticas no Brasil. Segundo dados apresentados pela ministra, 58% do território nacional enfrenta atualmente uma situação de seca, e mais de 900 focos de incêndio foram registrados em várias regiões do país.
A ministra reforçou a importância de compreender que a natureza e a economia estão diretamente interligadas. Segundo ela, aproximadamente 50% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial depende moderadamente ou fortemente da natureza, e na América do Sul esse número é ainda maior. Marina destacou que as chuvas, vitais para a produção agrícola, estão diretamente relacionadas à preservação ambiental.
Atuação do estado e desafios fiscais
Durante o evento, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, também falou sobre as mudanças climáticas, afirmando que elas não serão resolvidas apenas pelas forças de mercado. Ele defendeu uma maior atuação do Estado no combate à crise climática, através de incentivos e regulação.
No entanto, ele alertou que o Brasil enfrenta um desafio fiscal significativo, o que pode dificultar a implementação de políticas ambientais mais ambiciosas. Para Fraga, é necessário um redesenho das prioridades orçamentárias para garantir que a agenda climática receba a devida atenção.
Entre as soluções sugeridas, ele destacou a possibilidade de recuperação de terras degradadas e a venda de créditos de carbono, além de concessões públicas via licitação, como formas de financiar a preservação ambiental.
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