Um recente estudo do MapBiomas destaca uma preocupante proximidade entre as atividades de garimpo e os corpos d’água na Amazônia brasileira
De acordo com os dados de 2022, cerca de 77% das áreas garimpadas na região estão a menos de 500 metros de rios, lagos ou igarapés.
O levantamento apontou que, no ano analisado, a Amazônia concentrava 92% de toda a área garimpada no país, totalizando 241 mil hectares. Destes, 186 mil hectares estavam localizados a menos de meio quilômetro de algum curso d’água. Entre 2021 e 2022, observou-se um aumento de 35 mil hectares nas áreas de garimpo no Brasil, uma expansão comparável ao tamanho da cidade de Curitiba.
Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento de mineração no MapBiomas, explicou a gravidade da situação. “A proximidade do garimpo aos cursos d’água é uma característica intrínseca à extração de ouro na Amazônia, devido aos seus depósitos aluvionares. Esta atividade não só causa desmatamento, mas também gera assoreamento e contaminação da água por mercúrio e, mais recentemente, cianeto, afetando extensões muito maiores que as áreas diretamente garimpadas”, destacou Diniz.
O estudo também revelou que cerca de 3% da cobertura da Amazônia em 2022 correspondia a corpos d’água, abrangendo 11,9 milhões de hectares. Notavelmente, 10% da área garimpada, equivalente a 25,1 mil hectares, localiza-se dentro de Terras Indígenas, incluindo as TIs Kayapó, Munduruku e Yanomami. Na TI Kayapó, por exemplo, 70% da área garimpada está a menos de 500 metros de cursos d’água.
César também enfatizou o impacto direto dessas atividades sobre as comunidades indígenas e ribeirinhas. “As Terras Indígenas, embora sejam as mais preservadas da Amazônia, enfrentam uma ameaça significativa devido à alta concentração de garimpos próximos a corpos d’água. A contaminação resultante ameaça a subsistência alimentar, a saúde e a própria vida dessas comunidades, com impactos especialmente severos nas fases iniciais da vida”, alertou o coordenador.
Levantamento revela alta concentração de pistas de pouso próximas a áreas de garimpo em Terras Indígenas
Um estudo complementar realizado pelo MapBiomas trouxe à luz o número significativo de pistas de pouso localizadas em Terras Indígenas na Amazônia, revelando uma ligação estreita com as atividades de garimpo. Segundo o levantamento, a Terra Indígena Yanomami lidera o ranking com 75 pistas, seguida pela Raposa Serra do Sol com 58 pistas, a Terra Indígena Kayapó com 26 e as Terras Indígenas Munduruku e Parque do Xingu, cada uma com 21 pistas.
As análises de imagens de satélite mostraram que, no interior das Terras Indígenas, as pistas de pouso estão frequentemente situadas próximas às áreas de garimpo. Na TI Yanomami, por exemplo, cerca de um terço das pistas (28 de um total de 75, ou 33%) estão localizadas a menos de cinco quilômetros de áreas garimpadas. Este padrão sugere uma infraestrutura logística que facilita as operações de garimpo.
A situação é similar na TI Kayapó, onde 34% das pistas (9 de 26) se encontram a menos de cinco quilômetros das atividades garimpeiras. A proximidade é ainda mais crítica na TI Munduruku, onde 80% das pistas (17 de 21) estão situadas dentro deste mesmo raio de distância das áreas de garimpo.
Este cenário enfatiza a pressão exercida pelo garimpo sobre as terras protegidas e as comunidades indígenas, destacando a necessidade de vigilância e políticas mais rigorosas para proteger esses territórios e seus habitantes da exploração ilegal e dos impactos ambientais associados.
*Com informações UM SÓ PLANETA
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