Durante a primeira onda da pandemia de covid-19, a hidroxicloroquina, um medicamento antimalária, foi amplamente divulgada como um tratamento potencialmente eficaz. No entanto, um estudo recente publicado na revista Biomedicine & Pharmacotherapy sugere que seu uso pode estar ligado a um aumento de até 11% na taxa de mortalidade, potencialmente implicando em até 17 mil mortes.
Os autores do estudo alertam sobre os riscos de utilizar medicamentos sem evidências científicas robustas, especialmente em situações de crise. Soumya Swaminathan, ex-cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), mencionou que, embora geralmente segura, a hidroxicloroquina não mostrou progresso clínico no tratamento da covid-19, levando a OMS a desaconselhar seu uso.
Personalidades como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, endossaram a droga como uma “cura milagrosa”. Essa promoção resultou em um aumento nas vendas globais e no estoque pessoal do medicamento, com alguns países recomendando seu uso preventivo para profissionais da saúde.
Subarna Goswami, especialista em saúde pública, explica que a hidroxicloroquina foi inicialmente usada nos casos de covid-19 devido à sua capacidade de reduzir a reação imunológica excessiva, conhecida como tempestade de citocinas. Na Índia, o medicamento foi distribuído oficialmente para fins profiláticos entre profissionais da saúde.
Contudo, a esperança inicial se desvaneceu após advertências do FDA, agência americana de saúde, e a suspensão do tratamento pela OMS devido à falta de resultados positivos. Desde então, a comunidade científica tem investigado se a hidroxicloroquina é ineficaz ou potencialmente prejudicial no combate ao coronavírus
Índia apostou em cheio na HCQ, multiplicando a produção do remédio antimalária
O debate sobre a hidroxicloroquina na pandemia de Covid-19: Ineficaz ou Perigosa?
Durante a pandemia de covid-19, a hidroxicloroquina, um medicamento tradicionalmente usado no tratamento da malária e de doenças autoimunes, foi amplamente discutida como um possível tratamento para o vírus. Contudo, relatos de efeitos colaterais, como desconforto cardíaco e problemas digestivos, levantaram preocupações sobre sua segurança e eficácia.
Um estudo de 2020, envolvendo 96 mil pacientes, publicado na revista The Lancet, indicou um aumento de arritmias cardíacas entre os pacientes tratados com hidroxicloroquina. Esse achado levou à suspensão dos testes globais com o medicamento, embora o estudo tenha sido posteriormente retratado por inconsistências nos dados
Estudo publica pelo ‘The Lancet’ em 2020 foi rapidamente desmentido por falhas metodológicas
Recentemente, uma resenha sistemática de pesquisas da Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França, Itália e Turquia, publicada na Biomedicine & Pharmacotherapy, associou a hidroxicloroquina a um aumento na taxa de mortalidade, sugerindo até 17 mil mortes. Lars Hemkens, um dos autores cujo estudo foi incluído na resenha, ressalta a possibilidade de resultados variados dependendo das metodologias empregadas.
Subarna Goswami, especialista em saúde pública, observa que os fatores de confusão podem ter influenciado as taxas de mortalidade entre os pacientes que tomaram hidroxicloroquina. A substância é segura para o tratamento de longo prazo de doenças autoimunes, mas seus efeitos em indivíduos saudáveis e em grandes populações podem ser diferentes.
Soumya Swaminathan, ex-diretora científica da OMS, enfatiza a importância de sistemas de saúde robustos e preparados para pesquisa, capazes de fornecer resultados rápidos e baseados em evidências, mesmo em situações de crise. A experiência com a hidroxicloroquina durante a pandemia de covid-19 destaca a necessidade de abordagens cuidadosas e baseadas em evidências científicas no tratamento de doenças emergentes
*Com informações DW
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