Pesquisa indica que uma vasta colônia de clones de álamo na floresta de Pando pode conter pistas sobre como organismos antigos protegem seus genomas de mutações prejudiciais
Algumas amostras de DNA de uma das maiores e mais antigas plantas do mundo — um álamo tremedor (Populus tremuloides) em Utah chamado Pando — ajudaram pesquisadores a determinar sua idade e revelaram pistas sobre sua história evolutiva. O estudo foi publicado no servidor de pré-impressão bioRxiv em 24 de outubro e na revista Nature no início do mês e confirmou que a planta é o ser vivo mais velho do mundo.
Ao sequenciar centenas de amostras da árvore, os pesquisadores confirmaram que a floresta de Pando tem entre 16.000 e 80.000 anos. Eles também foram capazes de rastrear padrões de variação genética distribuídos por toda a árvore, oferecendo pistas sobre como ela se adaptou e evoluiu ao longo de sua vida.
“É muito legal estudar um organismo tão icônico”, diz a coautora Rozenn Pineau, geneticista evolutiva de plantas na Universidade de Chicago, em Illinois. “Acho que é importante chamar a atenção das pessoas para as maravilhas naturais do mundo.”
O que é a floresta de Pando?
Localizado em uma área de 43 hectares perto de Fish Lake, em Utah, nos Estados Unidos, Pando — cujo nome significa “eu me espalho” em latim — consiste em cerca de 47 mil caules que cobrem uma área de 42,6 hectares. Devido à maneira como a planta se reproduz, essa coleção de álamos é tecnicamente uma única árvore, sustentada por um sistema radicular vasto. Devido a uma particularidade cromossômica, a floresta de Pando não pode se reproduzir sexualmente e misturar seu DNA com o de outras árvores, criando clones de si mesmo.
Embora esse processo gere descendentes geneticamente idênticos, eles ainda podem acumular mutações genéticas à medida que suas células se dividem. Assim, os biólogos estão interessados nessas variações porque elas fornecem informações sobre como a planta mudou desde que a primeira muda brotou.
Até o momento, alguns estudos já haviam explorado a propagação de novas mutações em plantas e fungos que se reproduzem de forma clonal, mas poucos investigaram plantas com séculos de idade, como Pando. “É meio chocante para mim que não tenha havido muito interesse genético em Pando até agora, considerando o quão incrível ele é”, diz William Ratcliff, coautor do estudo e biólogo evolucionista no Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta.
Mecanismo protetivo
Durante a análise, a equipe também considerou os motivos para a notável resistência da árvore. Pineau diz que o fato de a floresta de Pando ser triploide – ou seja, possuir células com três cópias de cada cromossomo, em vez de duas – pode levar a “células maiores, organismos maiores, melhor aptidão”, e que os clones existentes podem ser mais duráveis do que novos descendentes mistos.
Philippe Reymond, que pesquisa interações entre plantas e herbívoros na Universidade de Lausanne, na Suíça, afirma que os achados sugerem que plantas e árvores possuem um mecanismo para proteger o genoma da acumulação de mutações genéticas prejudiciais, uma sugestão que é “bastante interessante para muitos cientistas”. Ele acrescenta que estudos futuros poderiam buscar por esse mecanismo exato em nível celular.
Ratcliff também está interessado em que mais estudos sejam realizados sobre a história genética de Pando. “Eu adoraria fazer um apelo para que as pessoas trabalhem com esses tipos de organismos”, diz.
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