O estado do Rio Grande do Sul está vivenciando uma das mais severas devastação climáticas de sua história, com uma semana de chuvas extremas que resultaram em um saldo trágico: 83 mortos, 111 desaparecidos e 276 feridos.
A devastação abrangeu 345 dos 496 municípios do estado, forçando o governo federal a decretar estado de emergência em 336 deles, conforme informações da Defesa Civil gaúcha. No total, mais de 850 mil pessoas foram afetadas diretamente, com 149,3 mil tendo que deixar suas residências devido aos danos e inundações.
O desastre natural precipitou uma mobilização de alto nível, com a visita do presidente Lula, acompanhado pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira. O encontro visou acelerar a liberação de verbas emergenciais para dar início aos trabalhos de reconstrução. De acordo com estimativas divulgadas, apenas a recuperação das estradas demandará um investimento aproximado de R$ 1 bilhão, destacando a magnitude dos estragos e a necessidade de recursos significativos.
Essa tragédia não chega a ser uma surpresa completa para aqueles que têm acompanhado as mudanças climáticas e seus impactos. Há cerca de dez anos, estudos como o “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima“, elaborado pelo governo federal, já alertavam para o aumento das precipitações e a intensificação dos eventos extremos no sul do continente, particularmente na bacia do Prata. No entanto, o relatório recebeu pouca atenção na época, e as ações preventivas necessárias não foram implementadas.
O atual cenário é ainda mais complicado devido a uma onda de calor que atinge grande parte do Brasil central, evidenciando o agravamento das condições climáticas extremas. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Porto Alegre, a capital gaúcha, registrou um aumento significativo no número de dias com chuvas extremas nas últimas décadas, demonstrando uma tendência clara de intensificação dos fenômenos climáticos.
Especialistas como Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo e integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), enfatizam a necessidade de enfrentar esta nova realidade climática com estratégias de mitigação e adaptação eficazes. A solução passa inevitavelmente pela redução das emissões de gases do efeito estufa e uma revisão profunda das políticas energéticas globais.
A resposta imediata dos governos, embora crucial, ilustra uma tendência preocupante de reagir às catástrofes em vez de preveni-las. Jornalistas como Miriam Leitão, em sua coluna no Globo, e ambientalistas como Marcio Astrini, do Observatório do Clima, criticam a falta de um plano de prevenção adequado e a legislação ambiental enfraquecida que continua sendo erodida por interesses políticos. Astrini destaca que a responsabilidade também recai sobre os legisladores que, através de suas ações e políticas, têm contribuído para o desmantelamento da proteção ambiental no país.
A catástrofe atual no Rio Grande do Sul serve como um lembrete severo e urgente da necessidade de ação climática proativa, tanto no nível nacional quanto global. É imperativo que os esforços de reconstrução sejam acompanhados por um compromisso renovado com políticas sustentáveis e preventivas, para evitar a repetição de tais eventos devastadores no futuro.
*Com informações CLIMA INFO
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