Senadora Damares Alves critica ICMBio e Ibama, enquanto ambientalistas desmentem suas alegações sobre as causas dos incêndios
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) gerou polêmica ao acusar brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de serem responsáveis pelos incêndios florestais que devastam várias regiões do Brasil. As declarações ocorreram durante uma sessão no Senado na última quarta-feira (18).
Damares criticou o governo federal e sugeriu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se concentrasse na gestão do Ibama e do ICMBio, alegando que as queimadas no Xingu são resultado de práticas inadequadas dos brigadistas. “Querem acusar a direita e o agro de incendiários”, afirmou, pedindo que o governo não interferisse nas operações do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. “O Xingu está em chamas porque os brigadistas estão fazendo uso das queimas prescritas”, acrescentou.
Ambientalistas respondem Damares
Em resposta, ambientalistas e representantes das instituições mencionadas contestaram as acusações. Segundo eles, as queimas prescritas, uma técnica utilizada para prevenir incêndios, não são realizadas nesta época do ano, conforme esclareceu ao Correio Braziliense. Bruno Cambraia, analista do ICMBio, que essas práticas são adotadas no final da estação chuvosa e no início da seca, quando as condições são seguras.
“Essas queimas são um remédio para prevenir incêndios”, explicou Cambraia, ressaltando que o objetivo é reduzir o “combustível” nas áreas de vegetação nativa. Essa técnica é parte do Manejo Integrado do Fogo (MIF) e é fundamental para conter as chamas durante períodos críticos.
O diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Shmitt, também se manifestou. “É um absurdo essa acusação. Nossos brigadistas são profissionais qualificados que trabalham arduamente para combater incêndios”, afirmou.
Além disso, Mauro Pires, presidente do ICMBio, enfatizou a importância de combater a desinformação sobre o trabalho dos brigadistas. “Utilizamos técnicas controladas, como a pinga-fogo, para conter incêndios. Atribuir a responsabilidade pelos incêndios a nossos profissionais é injusto e perigoso”, disse.
Isabel Schmidt, professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em MIF, também desmentiu Damares, afirmando que as queimas prescritas são utilizadas para evitar incêndios, e não para causá-los. Ela explicou que os incêndios naturais no Brasil são raros e geralmente resultam de raios, uma ocorrência praticamente inexistente durante a seca.
Damares, em sua fala, também culpou o governo federal pela greve de servidores do Ibama e do ICMBio nos últimos meses, afirmando que os bombeiros do DF estão bem cuidados sob a administração de Ibaneis Rocha (MDB).
O cenário atual, marcado por incêndios florestais em diversas regiões do Brasil, está sendo investigado pelas polícias Federal e Civil, que buscam identificar as causas, que podem ser criminosas. Especialistas alertam que, nesta época do ano, as condições naturais não favorecem incêndios espontâneos.
“Aqui, no Brasil, não temos o vulcão, então o raio é a única opção. No Cerrado, por exemplo, durante o período de chuva, há incidência de queimadas naturais por conta dos raios. Isso também serve para outros biomas, como o Pampas e o Pantanal. O que não acontece no período de seca, porque não há chuvas e, portanto, não há raios”, detalhou Isabel.
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