Mais da metade das bacias da Amazônia avaliadas apresentaram grau alarmante de contaminação por mercúrio, associada a atividades de garimpo ilegal na região
Quatro bacias da Amazônia – Tapajós (PA), Xingu (PA), Mucajaí e Uraricoera (RR) – apresentaram concentrações de mercúrio que superam os níveis tidos como seguros e afetam as comunidades locais. A partir de uma modelagem que projeta a distribuição e bioacumulação de mercúrio nos rios, estudiosos apontam que as sub-bacias desses rios abrigam territórios indígenas sob ameaça do garimpo ilegal, atividade que colaboraria para o aumento dessas concentrações do metal.
A análise foi publicada na revista científica Toxics, em agosto deste ano, e oferece bases científicas para planejar e implementar intervenções eficazes nas regiões afetadas pela contaminação. Segundo a Agência Brasil, a projeção foi feita a partir de um modelo de probabilidade, desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, e usou dados do “Observatório do Mercúrio”, uma plataforma desenvolvida pelo WWF-Brasil em parceria com outras instituições.
“O estudo evidencia como a poluição por mercúrio está intrinsecamente ligada tanto às atividades de mineração quanto às características dos ecossistemas aquáticos. As áreas alagáveis e outros elementos desempenham papéis cruciais na ampliação dos níveis de metilmercúrio. Assim, a crescente construção de infraestruturas, como reservatórios para hidrelétricas, pode potencialmente intensificar o problema, uma vez que essas estruturas podem aumentar a área de ambientes favoráveis à metilação do mercúrio”, diz Marcelo Oliveira, especialista em Conservação do WWF-Brasil.
O problema do garimpo na contaminação por mercúrio
De acordo com o MapBiomas, a área de garimpo apenas em territórios indígenas cresceu 265% entre 2017 e 2022, alcançando 25,2 mil hectares, um território maior do que a cidade de Recife. O mercúrio, que é uma das substâncias mais poluentes do planeta, é empregado pelos garimpeiros na extração do ouro e liberado em concentrações expressivas no ambiente.
Assim, em busca de entender a dinâmica do mercúrio na Amazônia, a pesquisa publicada na Toxics realizou uma modelagem com o objetivo de prever padrões de contaminação pelo metal pesado em algumas das principais bacias hidrográficas da região afetados pela extração de ouro.
Na visão do analista ambiental Vitor Domingues, um dos responsáveis pelo estudo da WWF, um dos grandes desafios é a escassez de dados amostrais, por isso a necessidade dos dados serem projetados. O resultado é que a maioria dessas sub-bacias não atenderia aos padrões estabelecidos na legislação ambiental brasileira. Das 3.791 sub-bacias do Tapajós, por exemplo, mais da metade (51,77%) não estaria em conformidade legal.
Como homens tendem a consumir mais peixes do que mulheres, as áreas de risco são muito altas para eles (49,4%), bem maior que a taxa para mulheres (45,1%). Esse percentual é ainda maior para populações indígenas, que têm nos peixes a principal fonte de ingestão de proteína: para eles, 49,6% das sub-bacias são consideradas territórios de risco muito alto.
O estudo traz várias recomendações sobre a contaminação por mercúrio nas bacias da Amazônia, dentre elas, a implementação de um programa de monitoramento, adaptado às condições das diferentes sub-regiões, e o aprimoramento da legislação brasileira, dentre outros.
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