A disseminação de carros elétricos pela frota automotiva ajudaria a melhorar indicadores que impactam e elevam os custos com saúde nos Estados Unidos – e, potencialmente, no Brasil
O uso generalizado de veículos elétricos pode trazer grandes benefícios econômicos ao reduzir doenças relacionadas à poluição, mas a forma de geração de energia precisa ser cuidadosamente considerada para que as economias geradas a partir dessa troca sejam distribuídas de maneira equitativa. Essa é a premissa desenvolvida em um artigo científico recente feito pelo Departamento de Engenharia Civil e Mineral da Universidade de Toronto, que apresentou alguns números reveladores sobre o impacto positivo em torno do uso de carros elétricos.
O estudo mostra que, se os veículos elétricos (EVs) dominassem as rodovias dos Estados Unidos, a qualidade do ar melhoraria drasticamente, trazendo grandes benefícios à saúde da população. Assim, com o uso de simulações via computador, os pesquisadores demonstraram que a eletrificação da frota de veículos dos EUA, complementada pela implementação substancial de geração de eletricidade renovável, poderia gerar benefícios à saúde avaliados entre US$ 84 bilhões e US$ 188 bilhões até 2050.
“Quando os pesquisadores analisam os impactos de veículos elétricos, geralmente focam nas mudanças climáticas enquanto forma de mitigação das emissões de CO2. Mas o CO2 não é a única coisa que sai do escapamento de um veículo com motor de combustão interna. Eles produzem muitos poluentes atmosféricos que têm um impacto significativo e quantificável na saúde pública”, pontuou Marianne Hatzopoulou, professora do departamento e coautora do estudo.
A professora também destacou que esses impactos são suportados de forma desproporcional por populações de baixa renda, racializadas ou marginalizadas.
Poluição atmosférica e os custos com saúde no Brasil
Segundo dados da publicação Poluição Atmosférica na Ótica do Sistema Único de Saúde, de 2021, disponibilizada pelo Ministério da Saúde, A poluição do ar é o principal risco ambiental à saúde. A OMS estima a ocorrência de 4,2 milhões de mortes prematuras atribuídas à poluição do ar, especificamente devida a material particulado com diâmetro equivalente ou menor do que 2,5 mícrons de diâmetro (MP2,5), anualmente, no
mundo. Desse total, 91% ocorreram em países de baixa e média renda, principalmente em regiões do Pacífico e sudeste asiático.
No Brasil, de acordo com levantamento da OMS, a poluição do ar provoca a morte de mais de 50 mil pessoas anualmente. Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde, o Saúde Brasil 2018, corrobora a informação, estimando a ocorrência de 44.228 mortes por doenças crônicas não transmissíveis atribuídas a poluição do ar no País, em 2016. Essas mortes representam um aumento de 14% no país em dez anos, comparado aos 38.782 em 2006.
Com a exposição exacerbada aos poluentes, como o monóxido de carbono (CO) e os óxidos de nitrogênio (NOx), a população pode serr acometida por dificuldades respiratórias e asfixia, representando perigo àqueles que têm problemas cardíacos e pulmonares, além de quadros de irritações no sistema respiratório e, em altas concentrações, problemas respiratórios mais graves, inclusive edema pulmonar.
Descarbonização da energia e transporte
O estudo da Universidade de Toronto também considerou uma variedade de cenários até o ano de 2050. Um deles presumia a interrupção da produção de novos veículos elétricos, enquanto o segundo assumia a completa eletrificação dos novos veículos nos Estados Unidos até 2035.
Em cada um deles, os pesquisadores avaliaram diferentes taxas de transição da rede elétrica para fontes de energia com baixas emissões e renováveis, levando em conta se essa transição permanecerá constante, desacelerará ou acelerará nos próximos anos.
“Nossa simulação mostra que os benefícios cumulativos para a saúde pública com a adoção em larga escala de veículos elétricos entre agora e 2050 podem chegar a centenas de bilhões de dólares. Mas outra coisa que descobrimos é que só alcançamos esses benefícios se a rede elétrica continuar ficando mais verde”, conclui o Professor Daniel Posen, outro coautor da pesquisa.
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