Um estudo publicado em 4 de novembro de 2023 na revista Regional Environmental Change aponta para uma preocupante redução na capacidade hídrica do Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil. O Cerrado, que abrange quase 24% do território nacional e é vital para o abastecimento de importantes bacias hidrográficas brasileiras, está enfrentando uma diminuição significativa em sua capacidade de fornecer água para rios cruciais como o São Francisco e o Paraná.
Os pesquisadores analisaram a entrada e saída de água em 13 bacias hidrográficas do Cerrado, focando nas chuvas e na evapotranspiração – a combinação de perda de água do solo por evaporação e a transpiração das plantas. “Os resultados são preocupantes, pois indicam um desequilíbrio neste ciclo vital”, disse César de Oliveira Ferreira Silva, engenheiro ambiental e primeiro autor do estudo.
Nas últimas duas décadas, houve uma redução geral no volume de chuvas em todo o bioma, caindo de uma média de 1.400 milímetros em 2001 para cerca de 1.000 milímetros em 2019. Paralelamente, a taxa de evapotranspiração aumentou significativamente, de cerca de 600 milímetros ao ano até 2001 para quase 1.000 milímetros em 2019
Um estudo complementar, publicado na revista científica Scientific Reports em julho de 2023, sugere que a expansão do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul sobre o Cerrado pode ser um dos fatores contribuindo para essa redução de chuvas. O fenômeno torna a atmosfera mais seca e quente, dificultando a formação de nuvens. Além disso, a substituição da vegetação original do bioma por pastagens e lavouras também influencia negativamente esse equilíbrio.
Rodrigo Lilla Manzione, engenheiro agrônomo da Unesp, destaca que em algumas regiões do Cerrado, especialmente no centro-norte, próximas à fronteira com o semiárido, a diferença entre a água recebida pelas chuvas e a perdida por evapotranspiração já é negativa.
Este estudo coloca em evidência a urgente necessidade de ações para preservar e restaurar a capacidade hídrica do Cerrado, crucial para a sustentabilidade ambiental e o abastecimento de água em grandes áreas do Brasil.
Expansão agrícola no Cerrado eleva temperaturas e reduz cobertura vegetal
A pesquisa, que analisou dados de satélites e informações dos projetos MapBiomas e Prodes, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que a cultura da soja foi a que mais cresceu, aumentando de 5,7 milhões para 16,8 milhões de hectares. Outras culturas, como cana-de-açúcar e café, também tiveram expansões significativas.
Além do impacto na vegetação, a temperatura média do Cerrado nos meses de seca subiu entre 2,2ºC e 4ºC em comparação com os anos 1960. Este aumento de temperatura está intimamente relacionado à redução da vegetação nativa e ao consequente desequilíbrio ambiental.
Estes dados ressaltam a importância de uma gestão sustentável do uso da terra no Cerrado, equilibrando as necessidades agrícolas com a preservação do bioma. O estudo evidencia a relação direta entre as práticas agrícolas e as mudanças ambientais, sublinhando a urgência de adotar medidas que minimizem os impactos negativos da expansão agrícola na região
*Com informações UM SÓ PLANETA
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