Amazonas Enfrenta situação de emergência em todos os 62 municípios devido à grave estiagem. Governo também decreta estado de emergência em saúde pública, diante da pior seca registrada na região nos últimos 44 anos, segundo o Cemaden
Em uma reunião do Comitê de Enfrentamento à Estiagem realizada nesta quarta-feira (28), o governador do Amazonas, Wilson Lima, declarou situação de emergência em todos os 62 municípios do estado. Além disso, o governo decretou estado de emergência em saúde pública, em resposta à grave estiagem que ameaça se tornar a pior registrada na região nos últimos 44 anos, conforme dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
O Amazonas, conhecido por sua vasta rede de rios, enfrenta uma situação paradoxal: enquanto a região é famosa pela abundância de água, agora lida com uma seca severa que já impacta diretamente a vida de mais de 300 mil pessoas. Desde julho, 20 municípios nas calhas dos rios Juruá, Purus e Alto Solimões já haviam sido reconhecidos em situação de emergência devido à seca. Agora, a medida se estende aos outros 42 municípios do estado, abrangendo toda a população amazonense.
A situação é particularmente preocupante em relação à saúde pública. A drástica baixa nos níveis dos rios não apenas dificulta o transporte fluvial, essencial para a mobilidade e abastecimento em muitas regiões, como também compromete o acesso aos serviços de saúde. Em áreas isoladas, a queda do nível das águas impede a chegada de medicamentos, insumos e até profissionais de saúde. Além disso, a falta de água potável e o aumento de doenças transmissíveis pela água representam riscos adicionais.
Impactos diretos da seca
A estiagem já afeta drasticamente o transporte, o abastecimento e a saúde. A Defesa Civil do Amazonas estima que 77 mil famílias estejam diretamente impactadas. Em resposta, o governo tem adotado medidas emergenciais para mitigar os efeitos da crise. No município de Envira, foi instalada uma usina de oxigênio para garantir o fornecimento de ar medicinal. Em Fonte Boa, 200 volumes de medicamentos e insumos foram enviados, enquanto 15 cilindros de oxigênio foram distribuídos para o hospital de Canutama.
Além dos problemas de saúde, a seca também agrava os incêndios florestais, que se alastram por grandes áreas do estado. O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) já combateu mais de 10.879 focos de incêndio desde junho. Para reforçar o combate às queimadas, o governo contratou 85 brigadistas, antecipando um investimento de R$ 1 milhão por meio de um termo de cooperação entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e a Agência Amazonense de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental (Aadesam). Esses brigadistas devem começar a atuar na próxima segunda-feira (2), reforçando as equipes estaduais.
Em Manaus, a capital do estado, a população já sofre com os efeitos das queimadas. A cidade amanhece frequentemente coberta por uma densa camada de fumaça, e a qualidade do ar tem sido classificada como “péssima” em vários bairros, segundo o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA), ferramenta da Universidade Estadual do Amazonas. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia recomendou o uso de máscaras pela população para mitigar os efeitos nocivos da fumaça.
Medidas governamentais e combate ao crime ambiental
O governo do Amazonas também intensificou as operações de combate aos crimes ambientais que agravam a situação. Desde o início da Operação Tamoiotatá, em 30 de abril, 168 pessoas foram presas ou detidas por envolvimento em crimes ambientais. Somente nas últimas 24 horas, cinco prisões foram realizadas. No período, mais de R$ 91 milhões em multas foram aplicados, além de 148 embargos, abrangendo uma área de mais de 16,9 milhões de hectares, e 30 termos de apreensão foram emitidos.
Essas ações visam não apenas punir os responsáveis por crimes ambientais, mas também conter o avanço do desmatamento e das queimadas ilegais, que têm contribuído para agravar os efeitos da seca. O governo estadual reconhece a gravidade da situação e está intensificando os esforços para garantir que os responsáveis pelos crimes ambientais sejam punidos e que a destruição dos recursos naturais do estado seja contida.
A crise de estiagem no Amazonas é um dos maiores desafios já enfrentados pela região. Com impactos severos em diversas áreas, desde a saúde pública até o transporte e o meio ambiente, o estado se encontra em uma situação de emergência que exige uma resposta coordenada e eficaz. As medidas adotadas pelo governo, embora significativas, serão testadas pela magnitude da crise. À medida que a seca avança, a população amazonense enfrenta uma batalha diária para garantir o acesso a recursos básicos e a preservação de sua qualidade de vida. O desfecho dessa situação dependerá não apenas da ação governamental, mas também da mobilização de toda a sociedade para enfrentar e superar os desafios impostos por essa estiagem histórica.
*Com informações CNN
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