A rodovia é viável economicamente e poderá ser viável também ambientalmente, desde que as medidas de proteção venham junto com a sua obra. Enquanto não sairmos do debate infantil onde se desconsidera a proteção do meio ambiente, seguiremos presos nos anos 1970.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Os debates sobre a infraestrutura do Amazonas são diminutos. Faz décadas que reduzimos o debate a uma questão: recuperar ou não a rodovia BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. Enquanto isso, nada mais se conversa sobre a infraestrutura.
Não falamos das conexões de Manaus com o interior pelos rios e portos, não deliberamos sobre aeroportos no interior, sobre outras rodovias, sobre as soluções para transformar os rios em hidrovias, se o fluxo de navios de grande porte é a melhor solução para o transporte, sobre onde caberiam ferrovias ou dutovias.
O reducionismo para uma questão que deveria ser pacificada: recuperar a rodovia e assegurar a proteção ambiental no seu entorno. A opção tem sido uma dualidade incompatível com o século XXI: não fazer nada e deixar a destruição seguir silenciosamente na floresta ou recuperar a rodovia, potencializando a destruição da floresta, sem se preocupar com os enormes riscos ambientais. Esta simplificação da discussão é nefasta para o potencial que temos na economia amazonense e da Amazônia.
O principal desafio da infraestrutura do Amazonas é interromper a aceitação da afirmativa que estamos “longe” de qualquer lugar. Não se fala que Dubai, Nova York, Londres, Tóquio ou Shangai são cidades distantes. Falamos que Manaus é distante simplesmente porque não temos infraestrutura, ou seja, inexiste o problema da distância. O que precisamos é romper a ausência de um estoque de infraestrutura, que, certamente, precisa ser muito maior do que uma rodovia.
Este reducionismo do debate precisa ser combatido, substituindo-o por uma ampla pauta de infraestrutura, até o momento em que paremos de afirmar que Manaus ou o Amazonas são lugares distantes. A “Aldeia Global” é altamente dependente de energia elétrica, telecomunicações e meios de transporte. Carecemos destas três dimensões e de operações frequentes de transporte em todas as modalidades possíveis. A construção desta infraestrutura no restante do país foi realizada com recursos nacionais e isso precisará acontecer também por aqui.
Os planos e documentos para o desenvolvimento da Amazônia tem negligenciado a dimensão da sustentabilidade, na busca de um tripé econômico, social e ambiental. Normalmente o olhar tem assegurado apenas uma das dimensões por vez e isso tem levado a um conjunto amplo de falhas nas correções das deficiências ou na criação de oportunidades para todos. Até para os povos isolados ou áreas onde o melhor seria nem tocar, temos optado sempre por uma dimensão do aproveitamento, levando, por vezes, a danos desnecessários.
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Refletir sobre a Amazônia e o Amazonas como um sistema, que precisa de infraestrutura construída com um paradigma de ampla responsabilidade ambiental é o grande desafio posto para a ciência e a técnica construtiva da região. A superação dos paradigmas dos anos 1970 precisa acontecer, para que não fiquemos presos a um passado de subdesenvolvimento e de destruições. A rodovia é viável economicamente e poderá ser viável também ambientalmente, desde que as medidas de proteção venham junto com a sua obra. Enquanto não sairmos do debate infantil onde se desconsidera a proteção do meio ambiente, seguiremos presos nos anos 1970.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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