Os resultados dos estudos com o agave foram apresentados durante a FAPESP Week Itália, que aconteceu de 14 a 16 de outubro
Em busca de alternativas para o uso da cana-de-açúcar na geração de bioenergia e, ao mesmo tempo, de encontrar soluções para mitigar as mudanças climáticas causadas pela geração de energia, um grupo de pesquisadores brasileiros passou a se dedicar ao estudo do Agave, um gênero de plantas que abrange mais de 200 espécies e é popularmente conhecido por seu uso, especialmente no México, para a fabricação da tequila. O objetivo é tornar a planta, cujas folhas são usadas na fabricação do sisal (fibra natural produzida a partir da planta Agave sisalana), uma alternativa para a produção de bioenergia capaz de ser cultivada em regiões semiáridas.
A iniciativa surgiu a partir da constatação do aumento da região com clima semiárido no Brasil, devido a mudanças climáticas. Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam uma expansão de 7,5 mil quilômetros quadrados ao ano desde 1990 – algo equivalente a cinco vezes a área da cidade de São Paulo. Esse cenário pode comprometer o cultivo de algumas plantas, como, por exemplo, a cana-de-açúcar, que é muito utilizada como solução dentro da bioeconomia para geração de energia renovável a partir da biodiversidade.
Conduzido com apoio da FAPESP, o trabalho está no âmbito do projeto Brazilian Agave Development (Desenvolvimento do Agave Brasileiro), uma parceria que envolve a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a empresa Shell e outras instituições de ensino e pesquisa, como Senai Cimatec, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Resultados promissores
Resultados recentes dos estudos com a espécie foram apresentados na última segunda-feira (14/10) durante a FAPESP Week Itália, pelo professor do Instituto de Biologia da Unicamp Marcelo Falsarella Carazzolle. Ele coordena a iniciativa junto de de Gonçalo Pereira, também do IB-Unicamp.
“No Brasil a principal espécie cultivada é a Agave sisalana, cujas folhas são usadas na fabricação da fibra do sisal. Porém, esse processo aproveita apenas 4% da planta, gerando um grande volume de resíduos que hoje é colocado no campo para degradar”, contou Carazzolle à Agência FAPESP. “Contudo, é possível gerar bioenergia tanto a partir do suco extraído das folhas, que é rico em inulina, um tipo de açúcar, quanto a partir do bagaço, rico em celulose. Além das folhas, a pinha do agave também acumula muita inulina que pode ser utilizada. As plantas demandam menos água e fertilizantes [em comparação com a cana], crescem em cinco anos e geram 800 toneladas de biomassa por hectare”, completa.
Um dos desafios no projeto tem sido a busca de bioestimulantes e fertilizantes capazes de acelerar a taxa de crescimento da espécie, que é considerada lenta. “Estamos patenteando um composto que aumenta em duas vezes [a taxa de crescimento] e identificamos outros quatro, que se mostraram promissores, avaliando as bases moleculares e seus mecanismos de ação”, conta o pesquisador.
O objetivo final da iniciativa de estudos com o agave é tornar possível produzir não apenas etanol a partir da planta, como também biometano, bio-hidrogênio e biochar, um tipo de carvão vegetal produzido pela decomposição térmica de biomassa em condições de pouca ou nenhuma presença de oxigênio.
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