Estudo recente adverte sobre os crescentes riscos de estresse térmico em bovinos devido às mudanças climáticas na Amazônia. Com o cenário atual, até um bilhão de vacas podem ser afetadas até o final do século, prejudicando a produção de leite, fertilidade e bem-estar geral do rebanho.
O aumento nas temperaturas globais representa uma ameaça palpável não apenas para a humanidade, mas também para a vida animal e a economia. Uma nova pesquisa na revista Environmental Research Letters expõe uma crise emergente na pecuária: o estresse térmico em bovinos. Com o cenário atual de mudanças climáticas, estima-se que até o final do século, mais de um bilhão de vacas em todo o mundo possam sofrer deste problema, com consequências devastadoras para a produção de alimentos e a economia rural.
Os sintomas
Cerca de 80% das vacas globais já apresentam sintomas associados ao estresse térmico, como temperaturas corporais excessivamente altas e respiração ofegante. Especialmente em climas tropicais, 20% dos bovinos vivenciam esses sintomas durante todo o ano.
Segundo o estudo, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem subindo, o estresse térmico se tornará um problema crônico em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, o sul da África, o norte da Índia, o norte da Austrália e a América Central.
O fator Amazônia e Congo
O crescimento da pecuária nas bacias da Amazônia e do Congo, onde as temperaturas estão aumentando mais rapidamente do que a média global, pode agravar significativamente este problema. Michelle North, a principal autora do estudo, enfatiza que o desmatamento para a expansão da pecuária “não é um futuro de desenvolvimento viável”.
No pior cenário, a criação de gado pode quase dobrar na Ásia e na América Latina e aumentar mais de quatro vezes na África. Isso poderia expor mais de 537 milhões de cabeças de gado a condições de estresse térmico até 2090, exacerbando ainda mais a crise climática e colocando pressão sobre os recursos alimentares.
O custo humano e econômico do estresse térmico em bovinos: da produção de leite à Segurança Alimentar
A anterior análise sobre o estresse térmico em bovinos revelou uma realidade preocupante para a indústria da pecuária. Entretanto, há mais do que apenas o bem-estar animal em jogo. O impacto econômico do estresse térmico atinge todos, dos pecuaristas comerciais aos pequenos agricultores, e tem consequências de longo alcance que podem afetar a segurança alimentar global e os meios de subsistência.
O impacto econômico nos EUA
Nos Estados Unidos, onde muitos pecuaristas têm acesso a seguros e empréstimos bancários, o estresse térmico já custa até 1,7 bilhões de dólares anualmente. Ainda assim, mesmo esses recursos financeiros não evitam que a indústria sofra perdas significativas durante ondas de calor.
No entanto, quando falamos de pequenos agricultores, principalmente aqueles em países em desenvolvimento, o impacto do estresse térmico pode ser devastador. Michelle North, principal autora do estudo anterior, aponta que eventos climáticos extremos “podem fazer com que estes percam literalmente os seus meios de subsistência”, especialmente porque não têm as redes de segurança financeira que os pecuaristas comerciais podem ter.
Ameaça à segurança alimentar
Além disso, o estudo projeta uma redução na oferta global de leite em 11 milhões de toneladas por ano até 2050, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam controladas. Isto é particularmente preocupante para a Ásia e a África, onde a oferta de leite já é limitada.
Para mitigar o impacto imediato, os pesquisadores sugerem fornecer sombra e ventiladores para os animais, bem como ajustar o horário da alimentação para as partes mais frescas do dia.
Se o controle eficaz dos gases de efeito estufa for implementado, o número de vacas afetadas poderá ser significativamente reduzido, poupando perdas econômicas e protegendo meios de subsistência. Reduzir a dependência de combustíveis fósseis e limitar a expansão da pecuária são passos cruciais nesse sentido.
O estresse térmico em bovinos não é apenas um problema de bem-estar animal, mas uma crise que afeta a economia global, a segurança alimentar e os meios de subsistência de milhões de pessoas. Medidas de curto prazo podem aliviar alguns dos sintomas, mas uma ação climática agressiva é necessária para abordar a raiz do problema. A hora de agir é agora.
*Com informações UOL
Comentários