Petra Zivic – BBC News
As invenções de Nikola Tesla ajudaram a levar este texto ao dispositivo no qual você o está lendo.
“Eu vejo Tesla não apenas como o pai da eletricidade ou da comunicação mundial”, diz o historiador e cineasta Michael Krause à BBC.
“Ele tinha ideias que estavam à frente de seu tempo — ele era um visionário que deu sua contribuição para a evolução da humanidade.“
Mas no final da década de 1890, enquanto Tesla caminhava pelo palco do Columbia College de Nova York segurando tubos brilhantes para apresentar seu recém-criado transformador oscilante, o mundo ainda estava praticamente no escuro.
“A eletricidade era o futuro, e a maioria das pessoas tinha que visitar locais onde ela era exibida para vê-la em ação”, conta o historiador Iwan Rhys Morus em seu livro Nikola Tesla and the Electrical Future (“Nikola Tesla e o Futuro Elétrico”, em tradução livre).
Mas isso logo mudaria.
Luzes brilhantes
Nikola Tesla nasceu em 1856, no Império Habsburgo da Áustria (sua cidade natal, Smiljan, agora fica na Croácia, embora sua família fosse de origem sérvia). Ele partiu ainda jovem rumo às luzes brilhantes de uma metrópole do Novo Mundo.
Quando chegou a Nova York em 1884, Tesla trabalhou para o famoso inventor e empresário Thomas Edison.
“Ele veio de um mundo antigo e se tornou um dos protagonistas dos tempos modernos”, diz Krause.
Quando pisou em solo americano, o engenheiro elétrico e mecânico — e futurista — tinha apenas alguns centavos no bolso e uma ideia de uma máquina voadora, segundo a biógrafa Inez Whitaker Hunt.
Mas não foi uma máquina voadora que deu fama a Tesla. Durante anos, ele vinha aperfeiçoando motores de corrente alternada.
E ele chegou aos EUA exatamente na hora certa, no momento em que uma luta entre diferentes tipos de corrente havia começado.
Eletrizando o mundo
O mundo estava se desenvolvendo e precisava de mais energia. Havia uma corrida para encontrar a maneira mais eficaz de produzir e transportar eletricidade para abastecer máquinas e acender as luzes.
“Havia dois sistemas concorrentes de transmissão elétrica”, conta Morus à BBC.
A briga era entre um empresário e engenheiro americano, George Westinghouse, e o chefe de Tesla, Thomas Edison, para estabelecer se a corrente alternada (CA, ou AC em inglês) ou a corrente contínua (CC, ou DC em inglês) seria usada para transmissão de eletricidade.
A empresa de Thomas Edison estava investindo em corrente contínua, que flui apenas em uma direção e em curtas distâncias, em uma voltagem.
Mas a corrente alternada flui em diversas direções, pode viajar distâncias maiores, e as tensões podem ser aumentadas ou diminuídas. Por alcançar distâncias maiores, ela leva energia a mais lugares.
“É como comparar um cavalo ou charrete a um avião a jato”, conta o biógrafo de Tesla, Mark Cypher, ao podcast de história do programa Witness da BBC.
Quando Tesla chegou a Nova York, ele já tinha um “avião a jato” no bolso. Ele havia testado a CA enquanto trabalhava na Europa e construiu seu primeiro motor de indução em 1883.
Mas como Edison insistia na transmissão por corrente contínua (CC), os dois se separaram — e Westinghouse comprou os direitos de patente do sistema de transformadores e motores de corrente alternada (CA) de Tesla.
O projeto de Tesla foi capaz de transmitir energia de maneira econômica a grandes distâncias e ainda é usado até hoje.
Tesla, o ‘showman’
“Nós ainda usamos eletricidade de corrente alternada, e o processo de produção e transporte de energia elétrica ainda é baseado nas ideias de Tesla”, diz Ivana Zoric, curadora do Museu Nikola Tesla em Belgrado, à BBC.
O sistema de Tesla ainda é o principal método de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica — e muitos dos dispositivos elétricos atuais dependem de outra de suas invenções.
“Os motores de indução eram muito inovadores nessa época e hoje ainda são usados na indústria e em muitos eletrodomésticos — até mesmo em carros elétricos”, diz Zoric.
Em 1891, ele inventou a bobina de Tesla, um dispositivo que emite belos fluxos de energia elétrica para tentar transmitir eletricidade sem fio. A invenção também é usada ainda hoje em aparelhos de rádio e televisão e outros equipamentos eletrônicos.
Dois anos depois, Tesla e Westinghouse venceram uma licitação para iluminar a Exposição Universal de 1893 em Chicago, comemorando o 400º aniversário da descoberta da América, e Tesla se tornou uma celebridade.
“Quando as pessoas perceberam o poder daquela invenção, Tesla foi contratado para construir uma usina elétrica nas Cataratas do Niágara”, conta Zoric.
Foi a primeira usina hidrelétrica do mundo, e Tesla possuía nove das 13 patentes usadas para construí-la.
“As pessoas sabiam quem era o incrível senhor Tesla, e ele usava isso a seu favor”, diz Morus.
Ele criou seu próprio laboratório e começou a fazer experiências com comunicação sem fio e transmissão de energia.
Ele abriu suas portas ao público, mostrando que sabia como virar celebridade, afirma Morus.
“Ele estava tentando vender sua visão singular de um mundo sem fio e com energia gratuita, e tentava se vender como a pessoa que seria capaz de entregar esse futuro.”
Futuro sem fio
Enquanto o mundo ainda dependia de enviar mensagens por meio de fios, Tesla começou a experimentar a transmissão de sinal sem fio.
Mas, para seus novos experimentos, ele precisava de financiamento, obtido no início da década de 1890 junto ao banqueiro americano J.P. Morgan. Com esse dinheiro, Tesla começou a construir sua torre de transmissão mundial sem fio em Long Island.
Seu grande objetivo era permitir a comunicação mundial — um sistema sem fio de comunicação global instantânea por vídeo e voz, em que as informações estariam disponíveis para qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Mas até que Morgan retirou seu apoio.
“Infelizmente, seu maior sonho, o sistema internacional de eletricidade e sistemas de comunicação, não deu certo porque ele ainda não estava pronto ou a tecnologia ainda não existia”, afirma Klause.
Tesla continuou trabalhando em vários projetos, mas ele não tinha recursos, e muitas de suas ideias permaneceram apenas em suas anotações, pois ele não conseguia entender que ciência e engenharia são processos que dependem de colaboração, envolvendo muitas pessoas.
“Tesla cometeu um erro fundamental. Ele realmente pensou que era o único que poderia criar o futuro elétrico. Ele não estava interessado em colaborar e trabalhar com mais ninguém”, avalia Morus.
Tesla ganhou fama de excêntrico, de um homem obcecado com fobia de germes e cuja especulação sobre a comunicação com outros planetas era alvo de críticas.
A morte de Tesla
Tesla morreu em 1943 em um quarto de hotel em Nova York, onde viveu a última década de sua vida.
“Em 1951, os pertences de Tesla foram enviados para Belgrado, na Sérvia, graças aos esforços de seu sobrinho”, diz Zoric.
Quatro anos depois, o Museu Nikola Tesla foi inaugurado em Belgrado — e hoje ele atrai milhares de visitantes todos os anos. O museu também recebe centenas de pesquisadores, uma vez que abriga 160 mil documentos de Tesla, incluindo planos, esboços e fotos.
E embora os arquivos de Tesla sejam acessíveis online, muitos de seus pertences pessoais permanecem nos cofres, já que o museu não tem espaço suficiente para exposições.
“Nós temos a cama, a geladeira, o guarda-roupa de Tesla, 13 de seus ternos, 75 gravatas, mais de 40 pares de luvas, entre outras coisas”, revela Zoric.
“Esperamos poder exibir tudo quando tivermos um espaço maior.”
Em 1956, um ano após a abertura do museu, uma unidade para medir a força dos campos magnéticos recebeu o nome de Tesla.
Ruas, escolas e um aeroporto na Sérvia foram batizados com seu nome. Tanto na Sérvia quanto na Croácia, Tesla está presente em cédulas e moedas.
A famosa fabricante de automóveis dos EUA recebeu o nome do inventor e, em 2018, a empresa SpaceX lançou um veículo Tesla Roadster para Marte no foguete The Falcon.
Mas o que Tesla pensaria do nosso futuro?
“Eu imagino que Tesla diria hoje que a humanidade está mais focada no conforto do que no futuro e nos problemas que podem surgir”, diz Zoric.
Texto publicado originalmente em BBC News
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