A resiliência do garimpo ilegal na Terra Yanomami, que viveu uma escalada de violência nos últimos dias, com um indígena assassinado e outros dois feridos, pode estar sendo patrocinada pelo crime organizado.
Essa linha de investigação entrou no radar das ações de inteligência do governo federal na região, com a informação de que um dos quatro garimpeiros mortos em confronto com agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no domingo (30/4) era integrante de uma facção criminosa com atuação em todo o país.
A informação foi dada na 2ª feira (1/5) pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, em coletiva de imprensa após a visita de uma comissão interministerial à TI Yanomami por causa do ataque no fim de semana.
Agostinho disse não ter mais detalhes sobre as investigações, mas, segundo a Agência Brasil, o garimpeiro sob suspeita, embora fosse do Amapá, seria integrante do PCC, que tem origem em São Paulo, mas atua em todo o Brasil. A informação foi reforçada pelo Diário de Pernambuco.
“A gente tem percebido que essas atividades passaram a exercer uma atração de facções criminosas. Elas servem, ao mesmo tempo, como forma de lavagem de dinheiro, por meio do garimpo ilegal, por exemplo, mas também como fonte de capitalização desses grupos, já que o tráfico internacional de drogas demanda grande investimento de operação”, explicou o presidente do IBAMA.
No local onde os garimpeiros foram mortos, a PRF disse ter encontrado um arsenal de armas. Segundo a corporação, foram identificados assentamentos de garimpeiros nas Terras Maikohipi e Palimiú – criados para tentar impedir o trabalho das autoridades – e que, nestas localidades, também ocorreram investidas criminosas contra equipes enviadas para combater a extração ilegal de minérios, detalha o Correio Braziliense.
Integrante da comitiva que esteve em Roraima, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, contou que o monitoramento feito por satélites identifica atividades de garimpo ilegal na Terra Yanomami. Contudo, a ministra garantiu que eles serão desativados, reforça a Agência Brasil.
No podcast “O Assunto”, do g1, o jornalista Rubens Valente, da Agência Pública, que passou mais de 20 dias na TI Yanomami no auge da crise humanitária, endossa as denúncias de lideranças indígenas sobre a presença de garimpeiros em grande escala dentro do território. Segundo Valente, eles estão se preparando para novos ataques. “Isso demonstra a força armada desses garimpeiros.”
O geógrafo Aiala Colares Couto, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA), apontou que a atuação de facções que controlam o tráfico de drogas na Amazônia estava aumentando os crimes ambientais na região, como desmatamento, grilagem, garimpo em Terras Indígenas e extração ilegal de madeira. O especialista nomeou essa conexão entre tráfico e devastação como narcoecologia.
Em tempo: Uma operação da Polícia Federal de Piracicaba (SP) contra a extração e o comércio ilegal de pedras preciosas chegou a garimpos ilegais de diamantes em Terras Indígenas e Áreas de Proteção Ambiental em três estados – Rondônia, Mato Grosso e Minas Gerais. As pedras eram extraídas e levadas para São Paulo e Paraná em voos domésticos, detalha o g1, sendo depois enviadas para países como Turquia, Bélgica, Estados Unidos e Coreia do Sul.
A PF apreendeu carros de luxo, diamante bruto, joias, relógios, armas e dinheiro e prendeu seis pessoas, cinco delas no Brasil e uma nos EUA. Ao menos 35 integrantes e sete empresas envolvidas no esquema já foram identificados.
Texto publicado em Clima Info
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