De volta ao passado com as tartarugas: a natureza, em sua complexidade e riqueza, sempre foi uma cápsula do tempo para cientistas que procuram desvendar os segredos do nosso planeta. Troncos de árvores, com seus anéis distintos, e núcleos de gelo, que preservam amostras atmosféricas de milênios atrás, têm sido a chave para desvendar o clima passado da Terra. Além disso, depósitos de materiais no solo oferecem pistas cruciais sobre as ações humanas e seu impacto direto no planeta, tanto que levaram alguns cientistas a especular que podemos estar entrando em uma nova época geológica.
Mas a recente descoberta de pesquisadores adicionou uma peça surpreendente ao quebra-cabeça do registro natural: os cascos dos quelônios.
Segundo uma pesquisa inovadora publicada na prestigiada revista científica PNAS Nexus, répteis como tartarugas e cágados acumulam urânio em diversas camadas de seus firmes cascos. Esses acúmulos não são apenas registros aleatórios; eles são representações tangíveis das atividades nucleares do século 20.
Para aqueles que não estão familiarizados, o século 20 foi marcado por intensos testes nucleares. Vários países, em sua busca pelo domínio nuclear, realizaram inúmeros testes, lançando partículas radioativas na atmosfera. Estas partículas, ao se depositarem, afetaram a flora, a fauna e, evidentemente, os humanos.
O fato de que esses répteis, com sua longa expectativa de vida e cascos que crescem lentamente, acumularam traços detectáveis de urânio ao longo do tempo é uma revelação impressionante. Como esses animais são amplamente distribuídos ao redor do mundo, seu registro de contaminação pode oferecer uma cronologia detalhada e geograficamente diversa dos testes nucleares e suas consequências.
Esse novo insight demonstra o quanto ainda temos a aprender sobre o impacto humano no mundo natural e a importância de preservar e estudar a vida selvagem. Os cascos dos quelônios, antes vistos apenas como uma defesa natural desses animais, agora emergem como registros históricos vivos, testemunhas silenciosas do poder nuclear da humanidade e seus efeitos duradouros no planeta.
Com a crescente conscientização sobre a sustentabilidade e os riscos ambientais, pesquisas como essa destacam a urgência de entender nosso passado para melhor navegar em direção a um futuro mais seguro e sustentável. E, enquanto fazemos isso, precisamos lembrar que, às vezes, as respostas estão nos lugares mais inesperados – como no casco de uma tartaruga.
Tartarugas: Uma Cápsula do Tempo da Contaminação Nuclear
O rico casco de tartarugas e cágados não é apenas uma proteção vital para esses animais; também é uma narrativa em camadas da história nuclear de nosso planeta. Pesquisadores têm agora revelado que esse casco pode esconder vestígios do sombrio legado nuclear do século 20.
De acordo com o The Guardian, os cientistas investigaram o casco de cinco quelônios, todos oriundos de coleções de história natural e já falecidos, em busca de vestígios de contaminação nuclear. Esses cascos, principalmente compostos de queratina, crescem em camadas anuais, cada uma representando um ano na vida do animal. Assim, as camadas podem refletir mudanças no ambiente em que o animal viveu.
Dentre os animais estudados estava uma tartaruga marinha coletada no Atol de Enewetak, nas Ilhas Marshall, em 1978. Esta área, juntamente com o vizinho Atol de Bikini, foi palco de 67 testes nucleares no século passado. Surpreendentemente, apesar da tartaruga provavelmente não ter estado viva durante os testes nucleares, seu casco ainda mostrava contaminação de urânio duas décadas após o último teste.
Além disso, os pesquisadores também estudaram uma tartaruga-de-caixa-oriental de Oak Ridge, Tennessee, nos Estados Unidos, uma área conhecida por suas instalações nucleares que produziram e processaram urânio desde 1943. Coletada em 1962, essa tartaruga pode ter acumulado radionuclídeos de resíduos de urânio na região.
As descobertas são significativas. Elas apontam para a habilidade desses animais de bioacumular radionuclídeos, seja de origens humanas ou naturais. Mais crucialmente, considerando a longevidade de muitos quelônios, esses animais podem fornecer um registro contínuo de contaminação nuclear em certas áreas ao longo de várias décadas.
A pesquisa conclui com uma nota ponderada, enfatizando a importância de considerar os quelônios ao avaliar o legado nuclear do século 20. “Ao refletir sobre os impactos duradouros das atividades nucleares, agora devemos incluir a experiência desses animais resilientes que viveram nas zonas de impacto”, conclui o estudo.
Esta pesquisa lança luz sobre a interação da fauna com as atividades humanas e reafirma a necessidade de uma abordagem cautelosa e consciente em relação ao uso da energia nuclear.
*Com informações de UM SÓ PLANETA
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