Em entrevista dada ao Estadão Ricardo Salles nega interesse na vaga, especialistas dizem que se nomeação for feita Arthur Lira estaria “declarando guerra” ao meio ambiente.
A informação de que o ex-ministro Ricardo Salles seria o nome indicado pelo Partido Liberal (PL) para comandar a Comissão de Meio Ambiente da Câmara movimentou as redes e gerou uma onda de declarações de repúdio na manhã desta terça-feira (7). Ao Estadão, Salles negou que tenha interesse no cargo, mas disse que se esse for o projeto de seu partido, não fará um “cavalo de batalha”.
A notícia foi publicada inicialmente na madrugada de hoje pela Eixo Político, página do Twitter mantida por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade de São Paulo (USP) que acompanham os bastidores do Congresso.
Para Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, se Arthur Lira, presidente da Câmara, de fato colocar Salles no comando da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS), ele estará “declarando guerra” à área ambiental do país.
“É bizarra essa situação de a gente imaginar a possibilidade de o Salles ser o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. Ele poderia ser presidente da Comissão de desmatamento, de grilagem de terra, de destruilção ambiental, de extração ilegal, caso elas existissem, mas de meio ambiente não […] A Câmara dos Deputados, se colocar uma pessoa como essa numa comissão tão importante como a de Meio Ambiente, está na verdade é declarando guerra à área ambiental no Brasil”, disse Astrini, no Twitter.
Também circula nas redes um abaixo-assinado pedindo que ambientalistas presidam a CMADS. Na petição, que em menos de 24h já conseguiu mais de 15 mil assinaturas, os organizadores citam o poder dos ruralistas no Congresso e a possibilidade real de a comissão cair nas mãos de algum deles.
“Nos últimos anos, esse colegiado foi presidido por parlamentares da base do governo Bolsonaro e isso afetou consideravelmente a qualidade e o funcionamento da comissão, levando à aprovação de graves retrocessos ambientais, o famoso ‘passar a boiada’. […] o cenário não poderia ser pior: partidos que têm as piores avaliações na agenda socioambiental podem acabar ficando com a presidência dessa comissão. Só a nossa pressão pode barrar esse retrocesso!”, diz a página.
De fato, levantamento realizado por ((o))eco mostrou que o bolsonarismo segue ainda mais radical no Novo Congresso Nacional: dos 91 deputados federais eleitos em 2022, mais da metade é de partidos ligados diretamente a Bolsonaro.
Ao Estadão, Ricardo Salles informou que não tem interesse no colegiado e que o partido sequer ficou com a Comissão de Meio Ambiente, conforme acordos feitos entre os líderes das legendas. “Em princípio, pra te falar a verdade, preferia nem presidir nada nesse primeiro ano”, disse, ao repórter André Borges.
No entanto, Salles afirmou que seguirá as orientações de sua legenda. “Se você perguntar qual é a minha preferência, eu digo que é não presidir comissão. Agora, se o partido virar pra mim e falar, ‘você tem uma missão de fazer tal assunto e participar de tal’, não vou fazer disso um cavalo de batalha, mas a minha posição é não presidir”.
O ex-ministro do Meio Ambiente e agora deputado federal Ricardo Salles foi acusado pela Polícia Federal de nove crimes ambientais, incluindo contrabando de madeira ilegal. A ele é atribuído o desmantelamento das leis ambientais do país, no famoso “passar a boiada”, o congelamento do Fundo Amazônia, o aumento da invasão do garimpo na floresta tropical e os altos índices de desmatamento e queimadas nos biomas brasileiros.
Fonte: O Eco
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