Foi nessa área que eu nasci“, aponta o Cacique Raoni, a maior liderança indígena brasileira e uma das mais reconhecidas globalmente. Sua voz é um testemunho direto dos incontáveis desafios que as terras indígenas enfrentam hoje.
Um olhar do alto sobre terras ancestrais
Em uma recente jornada aérea, o cacique Raoni teve a oportunidade de vislumbrar a vastidão de terras que ele e seu povo têm lutado para preservar. O olhar de Raoni se estendeu além dos limites da Terra Indígena Capoto/Jarina, onde atualmente vive em uma aldeia com cerca de 400 pessoas, às margens do Rio Xingu, no estado do Mato Grosso. Do alto, fazendas marcavam a paisagem, um lembrete sombrio das crescentes pressões sobre os territórios indígenas.
Nascido na década de 1930, a longa vida de Raoni abarca uma época de transformações e desafios sem precedentes para os povos indígenas. Ele testemunhou a era do Marechal Rondon e do ex-presidente Juscelino Kubitschek e, dos irmãos Villas-Bôas, ouviu o chamado para lutar por todos os povos indígenas, não apenas pelo seu. Raoni se tornou um símbolo de resistência, respeitado pelos povos indígenas e não indígenas em todo o mundo, incluindo celebridades, governantes e acadêmicos.
Hoje, uma das principais preocupações de Raoni é o garimpo ilegal que assola o território Kayapó. Este ato devastador, que desrespeita os direitos dos povos indígenas e destrói o meio ambiente, tem se tornado cada vez mais prevalente na região. A fim de proporcionar uma perspectiva mais clara sobre o impacto desta atividade, Raoni foi convidado a sobrevoar a área atingida pelo garimpo.
Em 25 de julho, junto com as lideranças Kayapó Doto Takak-Ire e Poy Kayapó, Raoni aceitou o convite para ver de perto o tamanho do estrago. Seu compromisso com a luta pela proteção das terras indígenas e sua disposição para enfrentar esses desafios são um testemunho de sua liderança e resistência.
Enquanto continuamos a navegar por tempos incertos, a voz e a visão de Raoni são mais importantes do que nunca. O seu compromisso com a proteção das terras indígenas oferece um exemplo valioso de resistência e persistência para todos nós.
Os povos indígenas Kayapó, Yanomami e Munduruku são os mais impactados pelo garimpo, com mais de 90% desse problema concentrado em seus territórios. O garimpo, uma atividade frequentemente subestimada em termos de seu impacto ambiental, destrói rios, contamina tudo em seu entorno e provoca danos quase irreversíveis ao meio ambiente. Em terras Kayapó, mais de 750 quilômetros de rios foram contaminados ou assoreados por essa atividade ilegal. “Essa destruição é para sempre”, lamenta o Cacique Raoni, ao visualizar uma extensa área de garimpo na Terra Indígena Kayapó.
O encontro silencioso com a devastação
Do céu, é possível avistar o maquinário de garimpo, escondido e operando em áreas recentemente desmatadas. As escavadeiras são visíveis, e a migração da atividade para o norte do território está em pleno andamento. Raoni, Doto e Poy, liderança da aldeia Gorotire, próxima à área de garimpo, mantêm um silêncio sombrio diante da devastação. O rio ao lado da aldeia agora é marrom, a água que os Kayapó usam para beber, cozinhar e se banhar está contaminada.
Quando questionado sobre como poderíamos apoiar sua causa, Raoni apela pela união e ação de todos. “Precisamos da união de todos contra a destruição. Precisamos do compromisso do governo e de ações concretas para apoiar nosso povo”, expressa Raoni, por meio do intérprete Doto.
Ao ser perguntado se acredita na capacidade de combater o garimpo e valorizar a economia da floresta em pé, Raoni responde afirmativamente, com confiança. Ele defende a necessidade de superar o modelo econômico atual e substituí-lo por uma alternativa que possa coexistir com a floresta, desconcentrar a riqueza e combater a pobreza que alimenta o garimpo e outras atividades destrutivas.
O Chamado do Cacique Raoni
As palavras de Raoni nos lembram da urgência em responder aos desafios presentes e futuros que enfrentamos. As crises climáticas, desde altas temperaturas até incêndios e derretimento de geleiras, são um lembrete constante de que nosso desafio é agora. Raoni entende que a luta contra a destruição econômica requer a rejeição de noções obsoletas de “progresso” e a adoção de um novo paradigma de respeito e coexistência com o ambiente natural.
A lição de um líder
Na presença do Cacique Raoni, fica evidente que não há outra alternativa senão continuar a lutar por caminhos de preservação. Mesmo aos 90 anos, Raoni nos ensina que o tempo para agir é agora. Permanecer firmes, serenos, fortes e nunca desistir da luta pela preservação é a mensagem que ele nos deixa. Sua voz é um chamado para todos nós, um lembrete de nossa responsabilidade para com o planeta e com o futuro.
*Com informações GREENPEACE
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