Enquanto os “guerrilheiros” do MST bradam “Alckmin guerreiro/ do povo brasileiro”, em concorrido festival, o pau quebra nas hostes governistas a propósito do petróleo na Amazônia
Por Antonio Riserio
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Enquanto os “guerrilheiros” do MST bradam “Alckmin guerreiro/ do povo brasileiro”, em concorrido festival, o pau quebra nas hostes governistas a propósito do petróleo na Amazônia. Afora meus amigos petistas (que não são muitos, mas também não são poucos), me lembro de que as pessoas mais próximas de mim diziam que Simone Tebet e Marina não deviam aceitar ministério de Lula.
No caso de Simone, o argumento é de que ela deveria se preservar, manter independência, mergulhar de fato na construção da famigerada “terceira via”, a fim de se firmar como alternativa eleitoral em 2026. No de Marina, a previsão nada tinha de otimista: “ambientalista” em governo “populista-desenvolvimentista”, ela já tinha quebrado a cara uma vez e estava destinada ao replay: mais cedo ou mais tarde, quebrar novamente a cara. Da primeira vez, Marina se viu encurralada no canto do ringue por Dilma Rousseff – e jogou a toalha.
O governo faria o espaventoso crime ecológico de Belo Monte, com implicações de genocídio de índios. E ainda passou o planejamento da Amazônia para Roberto Mangabeira Unger (e seu plano é admirável, por falar nisso: escrevi longamente sobre o tema no meu ensaio “A Cidade numa Nova Configuração Amazônica”, discutindo, basicamente, a partir das ideias de Mangabeira, do climatologista Carlos Nobre e da geógrafa (maravilhosa) Bertha Becker).
Na prática, Marina não apitaria mais nada. Estava, de fato, extraoficialmente demitida. E, claro, pediu demissão. Resolveu voltar ao governo acreditando que Lula de fato teria aderido ao ambientalismo na nova conjuntura mundial, quando a questão amazônica de fato se projetou planetariamente. Ledo engano, é claro.
Lula joga com esse discurso para enriquecer sua imagem no mundo, ganhar recursos internacionais para o Brasil, etc. Afinal, nada como posar internacionalmente de líder da vanguarda ecológica brasileira, protegendo a Amazônia e aprofundando a matriz energética limpa do país. Mas acreditou nisso quem quis.
A cabeça de Lula é essencialmente sindical-industrialista. Numa matéria da revista “Veja”, anos atrás, Gilberto Carvalho, achando que estava sendo simpático (e de fato estava, para muita gente), declarou: entre se ajoelhar diante do meio ambiente e gerar um bom número de empregos, Lula jamais teria dúvida: escolheria a geração de empregos. Agora, vai de novo deixar Marina chupando o dedo. Ela vai ter contra si o Congresso, o PT de Gleisi Hofmann, a Casa Civil, etc., etc. Lula, de camarote, vai esperar que ela peça demissão.
E, de fato, ela não terá outra coisa a fazer. Marina é uma estranha no ninho, por mais que tenha gente que não queira ver isso. Lula quer crescimento, crescimento e mais crescimento. E ponto final. Quanto a Simone Tebet, ficará mais bem situada, com Alckmin e sob o comando de Haddad, na guerra declarada pelo Ministério da Casa Civil. Vai aguentar o tranco, tudo indica.
Mas, no seu caso, adeus perspectiva presidencial. Não será mais “terceira via” – e, ficando onde está, jamais irá destronar Haddad, encarnação do espírito matreiro, negociador e flexível, muito flexível. Em resumo, é o que penso.
Poeta, antropólogo, tradutor e ensaísta, nasceu em Salvador (BA), em 1953. Publicou, entre outros títulos, os ensaios Carnaval ijexá (Editora Currupio, 1981), Textos e tribos (Imago, 1993), Caymmi, um autopia de lugar (Perspectiva, 1993) Avant-garde na Bahia(Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995), Oríki, orixá (Perspectiva, 1996), Ensaio sobre o texto poético em contexto digital (Fundação Casa de Jorge Amado, 1998) e Uma história da. cidade da Bahia (Ornar G. Editora, 2000) Publicou uma tradução de Altazor, do chileno Vicente Huidobro, em parceria com Paulo César Souza (Arte Editora, 1991). Seus poemas foram reunidos em Fetiche(Fundação Casa de Jorge Amado, 1996).
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