A cidade de Miranda, em Mato Grosso do Sul, e seus arredores enfrentam uma grave situação de emergência devido a incêndios inesperadamente intensos para a época, exacerbados pela seca e numerosos focos de queimadas no Pantanal.
Na cidade de Miranda, localizada a cerca de 200 km da capital do estado de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, pequenos flocos brancos, que são cinzas de incêndios próximos, caem do céu nublado e enevoado. Desde terça-feira (14), essa situação levou o município a declarar emergência.
Névoa de fumaça na região
Miranda e seus arredores estão cobertos por uma densa névoa de fumaça cinza. Ainda a caminho da cidade, partindo de Campo Grande, é possível notar o odor de queimado e sentir um gosto de fuligem no ar.
Causas dos incêndios e dados do Programa Queimadas
O cenário atual é fruto de uma estiagem persistente em várias regiões do Brasil, combinada com inúmeros focos de incêndio espalhados pelo Pantanal, causados por uma grande quantidade de raios. É atípico para a região enfrentar tantos incêndios em novembro, um mês usualmente marcado por inundações nas planícies características desse bioma.
Em entrevista a AFP, em outra região do Pantanal, o brigadista Paula André da Silva Barroso explicou “a maior parte dos incêndios florestais se iniciam pela mão do homem, em 98% das vezes, sendo o restante causas naturais. Mas o que aconteceu esse ano aqui no Parque Estadual Encontro das Águas [localizado entre os municípios de Poconé e Barão de Melgaço] foi descarga atmosférica, os raios, e com isso se iniciam incêndios.”
De acordo com o Programa Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Miranda registrou 111 focos de incêndio entre terça (14) e quarta (15), sendo o segundo município com mais focos no estado. Corumbá lidera com 154 focos. No total, Mato Grosso do Sul teve 323 focos, com Miranda respondendo por aproximadamente 34% deles.
No estado de Mato Grosso, foram contabilizados 511 focos de incêndio no Pantanal, durante o mesmo período. A cidade mais afetada é Poconé, com 243 focos.
Márcio Yule, coordenador do Prevfogo, órgão vinculado ao Ibama em Mato Grosso do Sul, expressa preocupação com a extensão da temporada de incêndios na região do Pantanal, que antes se encerrava em outubro.
Jornada pela BR-262
A equipe de reportagem da Folha viajou aproximadamente 100 km ao longo da BR-262, que conecta Miranda a Corumbá. Durante a viagem, observaram-se vários quilômetros afetados pelos incêndios, com trechos cobertos de fumaça ou ainda em chamas.
Na área próxima ao Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, constatou-se uma alta concentração de focos de incêndio. Nos últimos dias, as chamas também atingiram o próprio parque.
Além dos incêndios ao redor da rodovia, foram vistas colunas de fumaça distantes, propriedades queimadas e pequenos focos de incêndio dispersos na vegetação.
Atuação do corpo de bombeiros
Veículos do Corpo de Bombeiros circulavam frequentemente pela estrada. Contudo, suas missões nem sempre envolviam combater os incêndios que assolam parte do Pantanal.
Um episódio particular ocorreu com um caminhão carregado de carvão. Uma labareda que atingiu a BR-262 incendiou a carga. Julio dos Santos, o motorista de 43 anos, esforçava-se para remover os sacos em chamas com um bambu e tentou apagar o fogo com um extintor, sem sucesso. Inclusive, buscou água em uma área próxima para combater as chamas.
A carga de carvão tinha seguro, mas Santos expressou preocupação quanto à cobertura do seguro para o caminhão, que é registrado no Paraguai. A tinta queimada na carroceria do caminhão, em contato com as sacas de carvão, indicava o risco para o veículo.
Durante a operação de combate ao fogo no caminhão carregado de carvão, o Corpo de Bombeiros teve que fechar temporariamente o trânsito na BR-262. Em outra parte da rodovia, aeronaves foram empregadas, lançando água sobre os incêndios próximos.
Pouco tempo depois do incêndio, parte da carga de carvão que havia caído na pista já estava completamente queimada, transformando-se em cinzas.
Situação de emergência em Mato Grosso do Sul
Além de Miranda, o governo estadual de Mato Grosso do Sul declarou situação de emergência em outras quatro cidades na terça-feira: Corumbá, Ladário, Aquidauana e Porto Murtinho. Essa medida tem validade de 90 dias e permite dispensar licitações para resolver situações urgentes que possam prejudicar serviços públicos, a segurança da população e a integridade de bens públicos ou privados.
Em resposta à grave situação dos incêndios no Pantanal, o governo do estado de Mato Grosso também decretou situação de emergência, abrangendo todo o território estadual, mas com um período de vigência de 60 dias.
Com informações da Folha de São Paulo
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