O protagonismo e a crescente representatividade das mulheres em Terras Indígenas têm se tornado essenciais na batalha contra ameaças como o garimpo ilegal. Essa liderança também tem sido fundamental na geração de renda para essas comunidades. Em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, na última quarta-feira (9), Inimá Krenak, cientista social e gestora de projetos do Fundo Casa Socioambiental, destacou à Agência Brasil a relevância da liderança feminina nos projetos apoiados por sua organização.
Criado em 1995 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional dos Povos Indígenas busca reforçar o reconhecimento internacional à essas populações, que ainda lutam pela manutenção de seus direitos fundamentais.
Inimá Krenak relata que as mulheres têm sido essenciais tanto na proteção de seus territórios quanto em iniciativas produtivas focadas na economia e no mercado. “Elas são muito conectadas com esse tipo de trabalho que o Fundo Casa apoia”, diz Krenak. Em sua visão, a abordagem das mulheres é profundamente enraizada em uma preocupação com as futuras gerações, o que as afasta de atividades exploratórias que vão contra suas tradições, como a mineração ou extração de madeira.
Projetos e Prioridades em Terras Indígenas
Dando ênfase a esta visão, o Fundo Casa prioriza projetos sob a liderança feminina. Muitos destes projetos visam a defesa de causas (advocacy) e a participação ativa das mulheres indígenas em políticas públicas e momentos decisivos. Esta “incidência”, como é chamada, é vital para garantir os direitos, muitas vezes já consagrados na Constituição, mas frequentemente ignorados pelo Estado.
A participação feminina também se destaca na produção agroecológica de alimentos saudáveis e na confecção de artesanato. Além disso, o Fundo Casa auxilia na capacitação de mulheres indígenas, promovendo o protagonismo delas nas atividades.
Impacto e Crescimento
Entre 2018 e 2022, o Fundo Casa apoiou 508 projetos, beneficiando mais de 60 mil pessoas e desembolsando mais de R$ 20 milhões, o que representa 38% dos recursos doados pela organização. Importante ressaltar que, nos últimos cinco anos, a presença feminina tornou-se um critério na seleção de projetos, culminando em um aumento de 25% nos projetos liderados por mulheres nos últimos dois anos. Esta crescente participação tem sido vital para fortalecer os laços com os territórios e promover o uso sustentável dos recursos.
O cenário atual, embora desafiador, evidencia o poder e a determinação das mulheres indígenas em liderar a defesa de seus territórios e tradições, gerando renda e fortalecendo suas comunidades.
Guardiãs da Floresta: Mulheres Indígenas na Vanguarda da Conservação Ambiental
O título de “guardiões da floresta” foi atribuído aos povos indígenas da América Latina e do Caribe em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2021. E entre esses guardiões, as mulheres têm se destacado como forças motrizes na defesa do território, na conservação ambiental e na geração de renda.
O Relatório da ONU
O documento, elaborado pela Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) e pelo Fundo para Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac), confirmou que terras indígenas reconhecidas estão fortemente ligadas à conservação florestal. A pesquisa revelou ainda que, onde os direitos territoriais indígenas são formalmente reconhecidos pelo governo, as taxas de desmatamento são consideravelmente menores.
A Ascensão da Mulher Indígena
Elizangela Baré, líder da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (Amiarn), é um claro exemplo do poder da liderança feminina. Localizada na fronteira com a Colômbia, a associação, fundada em 2009, representa várias comunidades indígenas e utiliza a mobilização feminina para alcançar autonomia e valorização do território. Artistas e agricultoras, essas mulheres têm fortalecido tradições culturais, como artesanato e agricultura.
A Amiarn, que engloba diversas etnias indígenas, montou uma loja que se tornou referência regional. Aproximadamente 360 pessoas estão ligadas a este projeto, que tem o apoio fundamental do Fundo Casa Socioambiental.
Na mesma linha de autonomia e preservação, a Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun surge como uma resposta direta aos grandes projetos que ameaçam os territórios indígenas nas regiões do alto e médio Tapajós e baixo Teles Pires. Esta associação, também apoiada pelo Fundo Casa Socioambiental, impacta em torno de mil pessoas, tanto direta quanto indiretamente.
Originada em Jacareacanga, Pará, uma das principais ações da associação foi estabelecer um coletivo audiovisual, uma ferramenta vital para documentar invasões e ataques sofridos por suas comunidades. A luta contra o garimpo ilegal se tornou o cerne da associação, que não só defende o território, mas também promove a geração de renda por meio de oficinas de artesanato.
Inimá Krenak, ao refletir sobre a filantropia, salienta a necessidade de um olhar mais atento às prioridades das organizações indígenas. Ela enfatiza a importância de transferir o poder de decisão para as comunidades, permitindo-lhes guiar os projetos de acordo com suas necessidades e tempo.
O Fundo Casa Socioambiental permanece firme em sua missão de promover a sustentabilidade ambiental, democracia e justiça social, apoiando financeiramente e fortalecendo as capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.
No cenário atual, as mulheres indígenas emergem como líderes indispensáveis, tecendo uma teia de resistência, preservação e inovação. Suas ações e sua determinação não só protegem o meio ambiente, mas também garantem um futuro mais sustentável e inclusivo para todos.
*Com informações Agência Brasil
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