A alarmante marca de mais de 20% da Amazônia já devastada pelo Brasil traz consigo a sombria realidade de uma economia pautada na invasão, apropriação ilegal e destruição de terras públicas. Com mais de 86 milhões de hectares desmatados, mais de 90% deste território é mal utilizado, destinado principalmente a uma pecuária de baixa produtividade e qualidade. Contudo, um novo estudo indica uma possível luz no fim do túnel.
Enquanto a Amazônia se destaca atualmente como a maior emissora de gases de efeito estufa no Brasil e enfrenta preocupantes índices de qualidade de vida, os economistas José Alexandre Scheinkman e Juliano Assunção propõem um cenário otimista. Em seu estudo, “Carbono e o Destino da Amazônia”, eles argumentam que a atual situação da região pode representar uma oportunidade única para o país.
A solução? Carbono. Mais especificamente, a captura de carbono.
Os pesquisadores, ao abordarem o dilema da utilização das áreas já desmatadas da Amazônia, indicam que, a um preço de 20 dólares por tonelada de CO2, a regeneração florestal se torna economicamente mais viável que a manutenção da pecuária. Se, hipoteticamente, a Amazônia fosse propriedade de um único detentor, a estratégia mais lucrativa seria capitalizar esses 20 dólares por tonelada de CO2 e priorizar a recuperação florestal.
Atualmente, com o valor médio global do carbono girando em torno de 90 dólares por tonelada e sem previsão de declínio significativo em futuro próximo, o Brasil se encontra em posição favorável. Governos e empresas globais estão cada vez mais investindo em práticas sustentáveis e captura de carbono, e a Amazônia poderia se beneficiar dessas transações.
Os autores do estudo desenvolveram um modelo que considera vários fatores, incluindo os incentivos para o desmatamento, o potencial da agropecuária na região, bem como a capacidade de absorção, emissão de carbono e regeneração da floresta.
Se esta proposta for devidamente implementada, poderíamos testemunhar uma transformação na Amazônia, beneficiando não apenas a biodiversidade e o meio ambiente, mas também revitalizando a economia local e melhorando a qualidade de vida dos seus habitantes.
Pecuária na Amazônia: com um valor de 20 dólares por tonelada de CO2, quase toda a área torna-se mais atrativa para a regeneração florestal do que para a pecuária. — Foto: Getty Images
O Caminho para a Revitalização da Amazônia: As Condições Essenciais
A devastação contínua da Amazônia é uma ameaça não apenas para o Brasil, mas para todo o planeta. O modelo econômico baseado na captura de carbono, como proposto recentemente, traz esperança, mas para que ele se concretize e seja eficaz, três condições essenciais precisam ser atendidas.
1. Eliminação Completa do Desmatamento: A primeira e talvez a mais crítica das condições é o fim do desmatamento. A Amazônia, em seu estado natural, serve como uma gigantesca reserva de carbono, contribuindo significativamente para a redução dos gases de efeito estufa no planeta. Para maximizar sua capacidade de captura de CO2, a eliminação do desmatamento torna-se uma premissa fundamental. Uma política rigorosa, que expulse e penalize grileiros e invasores de terras, deve ser efetivamente implementada.
2. Reconhecimento e Remuneração dos Protetores da Floresta: Aqueles que preservam a floresta, sejam eles parte de Unidades de Conservação (UCs), Terras Indígenas (TIs) ou proprietários privados, merecem ser justamente recompensados. Essas são as pessoas que, dia após dia, desempenham o papel de guardiões da floresta, garantindo sua integridade e preservação.
3. Incentivo à Regeneração Activa da Floresta: A degradação já ocorreu em vastas extensões da Amazônia. Portanto, incentivar e recompensar esforços direcionados à regeneração florestal torna-se uma necessidade urgente. A restauração da floresta não apenas ajuda na captura de carbono, mas também restabelece o equilíbrio ecológico da região.
Dentro dessas condições, o pagamento por carbono capturado emerge como uma solução viável. Porém, além da absorção de carbono, uma floresta regenerada tem o potencial de fornecer uma variedade de produtos – de castanhas a cacau, de abacaxis a madeira certificada – sem esquecer as oportunidades no turismo e na pesca.
O desafio que enfrentamos é monumental, mas a possibilidade de reverter a situação da Amazônia e garantir sua sustentabilidade é uma recompensa inestimável. A Amazônia é mais do que uma reserva de carbono; é um ecossistema pulsante, vital para o equilíbrio global. É hora de unirmos forças, tomar decisões conscientes e investir decididamente na sua conservação e regeneração. A continuidade da Amazônia é uma questão que diz respeito a todos nós, e cada ação conta em busca de um futuro mais verde e sustentável.
*O artigo original foi escrito por Alexandre Mansur- Um Só Planeta
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