No pantanal primeiro projeto REDD+ no bioma já certificou mais de 230 mil créditos de carbono e tem potencial para reduzir 430 mil toneladas de CO2 até 2030, conforme organizadores
Por Guilherme Justino, de Corumbá (MS)*, para Um Só Planeta
O primeiro projeto certificado para a emissão de créditos de carbonona região do Pantanal foi anunciado nesta terça-feira (30) em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Formando um corredor de biodiversidade para a onça-pintada e outras dezenas de espécies animais em uma área de 135 mil hectares – equivalente a cerca de 200 mil campos de futebol –, o lançamento é a primeiro iniciativa REDD+ com emissão de créditos de carbono no bioma.
Possibilitado pela transmissora de energia ISA CTEEP por meio do Programa Conexão Jaguar, que teve início em 2019 e apoia nove iniciativas no Chile, Colômbia e Peru, além do Brasil, somando uma redução potencial de 7 milhões de toneladas de CO2, o projeto tem, entre os objetivos, proteger e conservar uma área florestal de alto risco de forma permanente para viabilizar um refúgio natural para espécies como onça-pintada, ariranha, tamanduá-bandeira, tatu-canastra e anta – consideradas em extinção, em risco ou que são “guarda-chuva”, termo utilizado para se referir às espécies que requerem uma grande área conservada para sobreviver.
“Estamos escrevendo talvez o capítulo mais importante do futuro do Pantanal. Tecendo uma história onde a economia e a conservação são um exemplo muito grande para o mundo. O comando, aqui, é da natureza, e a natureza vai pagar com respeito por esse gesto de parceria do homem pantaneiro”, declarou Angelo Rabelo, fundador e presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que faz a gestão da área protegida e é responsável pela execução do projeto.
O desafio de preservação na região é imenso. O Pantanal tem 15 milhões de hectares. O ano passado foi de alívio, com uma baixa recorde de queimadas, que atingiram perto de 200 mil hectares. Mas em 2020, pior ano da série, mais de 3 milhões de hectares haviam sido consumidos pelo fogo
Os créditos de carbono são instrumentos de incentivo à preservação, desenvolvidos no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente áreas por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa. Já o REDD+ é um incentivo para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal, considerando o papel da conservação de estoques de carbono.
Presente no anúncio, o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, que é biólogo, saudou o lançamento como um importante passo para uma meta ousada do Estado: de neutralizar suas emissões até 2030.
“Mas muito mais do que o valor envolvido e o volume de crédito aportado, valorizamos o simbolismo do que esse ato representa. É a concretização de um conceito, de um propósito. Temos absoluta convicção de que (a meta de neutralização de carbono) é possível, e esse ato tem um simbolismo gigante nesse processo”, garantiu ele.
Para a a diretora executiva de Finanças e Relações com Investidores da ISA CTEEP, Carisa Cristal, o marco inédito no Brasil vai reforçar a governança local e a gestão de áreas protegidas, com participação ativa da comunidade local – que retira do ambiente o seu sustento, sem comprometer os recursos naturais de forma permanente.
“Esta região mostra a verdadeira conexão com a sustentabilidade. E o desafio desses 4 anos não acaba hoje: é um comecinho, uma primeira semente, porque queremos muito mais. O Conexão Jaguar tem como desafio conectar todo um corredor na América Latina, para garantir a conservação dessas regiões. E tem dado tão certo que queremos aumentar esse projeto em sete vezes até 2030”, planeja ela.
A certificação de créditos de carbono contou com o apoio dos aliados técnicos da ISA CTEEP, South Pole e Panthera, dedicados ao mercado voluntário de créditos de carbono e à conservação de grandes felinos, respectivamente.
O projeto, realizado na Serra do Amolar, conhecida por ser uma região extremamente isolada e que foi particularmente atingida pelos incêndios que devastaram o Pantanal em 2020, tem potencial de redução de mais de 430 mil toneladas de CO2e até 2030. A iniciativa ainda terá o desafio de reduzir em 90% o desmatamento não planejado, no qual está incluído o fogo, considerado o principal fator de desmatamento nesse bioma.
“É a primeira vez que se vê isso no Pantanal, e em uma área protegida privada (Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN), mostrando que o nosso ideal tinha viabilidade e pode servir de inspiração para muitas outras áreas”, declarou Leticia Larcher, doutora em Ecologia e Conservação que esteve à frente do projeto desde 2019.
Também presente no evento, representando a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a ambientalista Rita de Cassia Guimarães Mesquita associou o projeto ao pioneirismo dos pantaneiros, que trilharam caminhos novos, desbravando regiões desconhecidas e abrindo caminhos para um futuro melhor.
“Os desafios da conservação da biodiversidade e preservação da natureza são enormes, e necessariamente vão ter que contar com a parceria da iniciativa privada e diferentes esferas do governo. Nossa natureza brasileira vai precisar contar com parcerias como essa, de união e superação de desafios, uma vez que grandes incêndios atingiram o projeto depois que estava iniciado”, lembrou ela. “Esse projeto está conseguindo mostrar que somos capazes de dar conta das vulnerabilidades e riscos de maneira responsável, trazendo benefícios para todos.”
*O jornalista viajou a convite da ISA CTEEP
Texto publicado originalmente em UM SÓ PLANETA
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