Nutricionistas fazem um alerta sobre o cumprimento das orientações previstas no PNAE (Plano Nacional de Alimentação Escolar) pelas escolas do Amazonas. Na semana passada, pais de alunos da rede estadual publicaram nas redes sociais fotos que mostravam suco e bolacha como merenda escolar oferecida aos estudantes no turno da manhã. Os pais cobram do governo que a alimentação dos filhos nas unidades de ensino tenha mais qualidade e seja suficiente para suprir as necessidades nutricionais.
O PNAE estabelece que alimentos como bolacha, pão ou bolo, devem ser oferecidos, no máximo, duas vezes por semana quando estiverem complementados de uma refeição em um turno; três vezes por semana quando estiverem acompanhados de três refeições ou mais na metade do dia. Em escolas de tempo integral, o plano orienta que esses alimentos podem ser oferecidos, no máximo, sete vezes por semana, desde que os alunos tenham três refeições ou mais durante o dia na instituição.
Para a nutricionista Ana Margarida da Silva, oferecer suco e bolacha para crianças e adolescentes é favorecer o consumo de açúcar. “Uma alimentação com suco e bolacha é rica em carboidratos. A bolacha vira açúcar. Então, basicamente, é uma ‘caloria vazia’ que a criança consome”, disse.
Ana Margarida também alerta sobre a alimentação com embutidos, como salsicha e calabresa, e enlatados. São alimentos que o estado também leva para as escolas. Em maio deste ano, a Seduc-AM (Secretaria de Estado de Educação e Desporto) finalizou uma licitação de R$ 15,7 milhões para a compra de enlatados para a merenda escolar. O contrato, de 12 meses, inclui a compra de conservas de peixe, salsicha e carne. O PNAE orienta as escolas a oferecer enlatados apenas uma vez por mês.
“Os embutidos e enlatados não têm nutrientes. [Esse alimentos] têm muito sódio e são conservados. Eles têm muitos conservantes, aditivos químicos e são muito prejudiciais para nossa saúde, além de contribuir com câncer por ter essa quantidade de aditivos, como corante, que são prejudiciais para a população em geral, e, principalmente, para quem está em desenvolvimento”, disse Ana Margarida.
Consequências para além da saúde
A nutricionista Daniela Silva afirma que, além de afetar o desenvolvimento físico de crianças e adolescentes, produtos industrializados podem prejudicar o progresso mental e social dos estudantes. “Pode prejudicar no desenvolvimento intelectual: eles podem ter dificuldade de aprendizado, no crescimento, além de outros fatores, como na vida social dentro de casa, ter dificuldade de concentração e memorização”, disse.
Para a especialista, a alimentação adequada para os estudantes deve ser equilibrada e rica em nutrientes, sendo prescrita por um profissional e tendo como base o PNAE. Na Amazônia, pode-se investir em uma alimentação saudável com produtos regionais.
“Independente de ser uma rede estadual ou uma rede municipal, o Programa Nacional de Alimentação Escolar diz que deve ser, pelo menos, 70% do cardápio de produtos naturais e produtos básicos, e, no máximo, 30% de produtos industrializados”, disse Daniela.
“Quase não se encontra nas escolas frutas, legumes e verduras. É muito mais os enlatados, as bolachas e os sucos industrializados que se encontram nas escolas como merenda ou como refeição. A gente não vê, por exemplo, escolas oferecendo cará, macaxeira, que são produtos baratos, que tem como oferecer, beneficiando os jovens”, completou.
O que diz a Seduc
Em nota, a Seduc-AM informou que realiza um planejamento com a equipe de nutricionistas que integram a Gerência de Merenda Escolar da rede estadual e que a pasta segue as diretrizes do PNAE. A secretaria disse, ainda, que fará uma fiscalização nas escolas para apurar as denúncias dos pais e tomar medidas cabíveis, mas não informou quais.
Por Marcelo Moreira
Originalmente publicado pelo: AMAZONAS ATUAL
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