Maquinário pesado fabricado pela empresa Hyundai e outras multinacionais estão sendo usado por garimpeiros para avançar sobre a floresta, incluindo territórios de povos indígenas
Por Redação, do Um Só Planeta
No dia 12 de abril, o Greenpeace Brasil lançou o relatório “Parem As Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo”, realizado em parceria com o braço da ONG no leste asiático, que veio acompanhado de uma série que digere para o grande público a história do desenvolvimento da atividade nociva ao meio ambiente e às comunidades locais.
Em seu primeiro episódio, a série mostra como o ciclo de mecanização do garimpo no século XXI aumentou os danos à Amazônia principalmente com a introdução das escavadeiras hidráulicas, aquele maquinário pesado que encontramos em canteiros de obras da construção civil.
Com seu braço articulado e pás carregadeiras, elas estão ajudando garimpeiros a revolver a terra e avançar sobre a floresta, incluindo territórios de povos indígenas. Mas elas não brotaram ali do nada. A fim de cobrar responsabilidades, a equipe da ONG ambientalista realizou uma investigação para identificar a origem dessas máquinas e suas fabricantes.
Descobriram que 42% das 176 escavadeiras identificadas entre 2021 e 2023 em terras Kayapó, Munduruku e Yanomami foram fabricadas pela empresa coreana Hyundai Construction Equipment – HCE.
Simultaneamente ao lançamento do relatório, ocorreu um protesto próximo à entrada da fábrica da Hyundai Construction Equipment – HCE em Itatiaia (RJ) e ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas se posicionaram junto a um balão inflável simulando uma máquina escavadeira e seguraram faixas com as mensagens: “Amazônia Livre de Garimpo”, “Parem as Máquinas” e “Fora Garimpo”.
Enquanto isso, na Coreia do Sul, porta-vozes da ONG acompanhados de Doto Takak Ire, líder indígena do povo Kayapó, falaram em entrevista coletiva a jornalistas em Seul, cobrando respostas da Hyundai HCE.
Posicionamento da HCE
Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a HCE afirmou que deixará de vender temporariamente suas máquinas pesadas nos estados do Amazonas, Roraima e Pará, onde estão as Terras Indígenas mapeadas no relatório que respondem sozinhas por mais de 90% da área garimpada atualmente em Terras Indígenas na Amazônia.
Reconhecendo que a destruição da Amazônia e a violação do modo de vida dos povos indígenas é um problema que destrói a Amazônia e a vida dos povos indígenas, a empresa também afirmou que deixará de oferecer manutenção e fornecimento de peças na região até que seus esforços para fortalecer o processo de vendas e sistema de conformidade sejam eficazes para impedir que as escavadeiras sejam usadas para o garimpo ilegal.
Além disso, a Hyundai HCE rescindirá o contrato com a concessionária que vende os equipamentos para os garimpeiros ilegais. “Participaremos fielmente tanto quanto possível para proteger o meio ambiente e os povos indígenas da Amazônia, e cooperaremos com o governo brasileiro na medida do necessário para esse fim”, disse em nota a empresa.
Doto Takak Ire, líder indígena do Povo Kayapó, disse esperar que a empresa trabalhe junto ao governo brasileiro para definir uma solução de longo prazo contra a atividade ilegal. “A luta contra o garimpo é longa e esse é um primeiro passo. Agora, outras empresas também precisam agir, até que não haja mais nenhuma escavadeira dentro dos nossos territórios.”
Para Danicley de Aguiar, porta-voz do Greenpeace Brasil, o anúncio da HCE mostra que é possível e viável o setor privado se comprometer com a proteção do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas na Amazônia. “A HCE não é a única empresa com escavadeiras sendo usadas no garimpo ilegal e, por isso, é urgente que outras fabricantes de escavadeiras hidráulicas sigam o exemplo e também tomem as medidas necessárias para que seu maquinário pare de ser utilizado na destruição da floresta e do modo de vida dos povos originários”, afirmou.
Ainda que as máquinas da marca Hyundai tenham aparecido em maior quantidade no monitoramento, outras fabricantes também possuem equipamentos sendo usados em garimpos ilegais. Além da Hyundai, a investigação encontrou escavadeiras das marcas: Liugong (China); Caterpillar (EUA); Volvo (Suécia); Sany (China); John Deere (EUA); Komatsu (Japão); Link-Belt (EUA); XCMG (China); Case (EUA); e New Holland (EUA).
O relatório do Greenpeace aponta algumas ações que as empresas poderiam usar para endereçar o problema, como sistemas de controle e sensoriamento remoto das escavadeiras à exemplo do Hi Mate, o chamado Código da Consciência, dispositivo open-source que, com ajuda de um GPS, restringe o uso de maquinários pesados em áreas florestais protegidas, como a floresta Amazônica.
Texto retirado de Um Só Planeta
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