Já virou uma tradição incômoda para quem acompanha o noticiário sobre clima. Sempre que o IPCC lança um relatório sobre a situação da crise climática, somos tomados por uma onda de manchetes avassaladoras, muitas com um tom marcadamente apocalíptico. Não foi diferente na semana passada, depois do painel apresentar seu relatório-síntese do 6º ciclo de avaliação.
Se é difícil para o leitor atento, com conhecimento sobre o tema, processar a avalanche de informações e separar dados objetivos das frases de efeito, imagine para aquele mais desatento, que não acompanha o assunto? Confrontado com manchetes tão impactantes, de um futuro de desastres sem fim, ele pode se ver encurralado – e, consequentemente, entender-se como impotente diante do apocalipse.
Assim, como bem assinalou o Washington Post, podemos estar gerando um novo tipo de negacionismo, que não contesta a crise climática em si, muito menos a responsabilidade humana sobre o processo, mas que rejeita qualquer esperança de que podemos evitar o pior.
“É justo dizer que, recentemente, muitos de nós, cientistas climáticos, passamos mais tempo discutindo com os pessimistas do que com os negacionistas”, afirmou Zeke Hausfather, cientista colaborador do IPCC.
Ou seja, os maiores adversários da ação climática podem não ser mais aqueles que negam a existência do problema, mas aqueles que não enxergam qualquer possibilidade de solução. Por isso, é fundamental diferenciar o alarme dos desastres potenciais do alarmismo de um futuro já condenado.
“Se você enquadrar as coisas de uma forma que assusta as pessoas, isso pode levar ao desengajamento e as pessoas podem se desligar porque se sentem sobrecarregadas demais para querer agir”, explicou o professor de psicologia social da Universidade de Cambridge (Reino Unido), Sander van der Linden, à Sky News. O alarme é importante para nos tirar da zona de conforto e nos conscientizar sobre a necessidade de agir, mesmo no nível mais simples e individual. “Faça o que puder, mas torne-o visível e social.
A ligação entre o comportamento individual e as escolhas individuais e essas mudanças sociais são sobre tornar suas escolhas parte da conversa e fazer com que suas escolhas façam parte da mudança do que é natural em nossa sociedade”, destacou Matt Hoffman, da Universidade de Toronto (Canadá), ao The Star.
Texto publicado em CLIMA INFO
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