Abaixo do solo, em uma região invisível aos nossos olhos, os fungos desempenham um trabalho extraordinário associando-se às raízes das plantas em uma relação simbiótica, descubra mais sobre os fungos e sobre sua conectividade
Você já se perguntou sobre a névoa branca que surge quando um feixe de luz atravessa a copa das árvores e atinge os cogumelos maduros? Essa névoa é formada por bilhões de esporos, células responsáveis pela reprodução dos fungos. Cada esporo carrega metade do material genético necessário para gerar um novo cogumelo. Levados pelo vento, insetos e outros animais, esses esporos se dispersam, contribuindo para a diversidade das espécies de fungos.
Quando um esporo encontra um substrato adequado, como alimento, temperatura, umidade e luminosidade ideais, ele germina, dando origem a filamentos extremamente finos, invisíveis a olho nu, chamados hifas. Essas hifas se ramificam e formam uma complexa rede conhecida como micélio.
O micélio primário, gerado a partir do esporo, possui apenas um núcleo e não é capaz de gerar um novo cogumelo sozinho. Para isso, ele precisa encontrar um micélio secundário, formado por hifas com dois núcleos, proveniente de um esporo com material genético complementar e compatível. As pontas das hifas se atraem através de uma incrível comunicação química dos fungos, permitindo a fusão dos núcleos das hifas e a formação do micélio secundário. Essa fusão é comparada a uma relação sexual desses seres. O micélio secundário, contendo todo o material genético da espécie, é capaz de gerar um novo cogumelo.
Ao explorarmos uma floresta, somos encantados pelos variados formatos, tamanhos, cores e cheiros dos cogumelos. Porém, esses corpos frutíferos são apenas os “órgãos genitais” de algumas espécies de fungos. O verdadeiro corpo está presente na forma de micélio. A maior parte do ciclo de vida dos fungos filamentosos ocorre nessa forma.
Uma visita à floresta é como uma fotografia instantânea, não revelando o trabalho invisível. No entanto, se olharmos para a floresta como se fosse um filme, poderemos testemunhar a magnífica ação dos fungos por meio da transformação das folhas, frutos, flores, galhos, troncos e até mesmo dos excrementos dos animais. Esses materiais orgânicos se convertem em nutrientes que promovem o ciclo vital da floresta.
Abaixo do solo, em um mundo invisível, os fungos desempenham um trabalho extraordinário, associando-se às raízes das plantas em uma simbiose chamada de micorriza. Nessa associação, a planta fornece açúcares gerados pela fotossíntese ao fungo, enquanto o fungo fornece à planta nutrientes, minerais e umidade extraídos do solo. Essa simbiose desempenhou um papel crucial na evolução das plantas, permitindo que elas conquistassem a terra firme e dominassem o ambiente terrestre.
A rede de micélios presente no solo funciona como uma espécie de internet entre as plantas. Por exemplo, se uma planta é atacada por insetos, ela envia uma mensagem química através dos micélios, alertando as plantas vizinhas para produzirem substâncias que repelem os insetos, protegendo e preservando a espécie. Essas substâncias muitas vezes são produzidas pelos fungos endofíticos, que vivem em parte de seu ciclo dentro das plantas, sem prejudicá-las. Cientistas descobriram que todas as plantas estudadas até o momento realizam associações endofíticas, resultado de uma coevolução de pelo menos 400 milhões de anos entre fungos e plantas. Além disso, comprovou-se que princípios ativos de várias plantas medicinais são produzidos pelos fungos que habitam seu interior.
Por outro lado, existem fungos parasitas que causam danos e até mesmo a morte de seus hospedeiros. Um exemplo intrigante é o das “formigas zumbis“. Os esporos germinam em formigas saudáveis, e o micélio produz substâncias que alteram o comportamento desses insetos, fazendo-os subir em plantas a alturas variadas, dependendo da luminosidade. Dominadas pelo fungo, as formigas mordem a planta e fixam-se nela até a morte. O corpo do inseto se torna alimento para o micélio, que completa seu ciclo de vida ao formar a estrutura reprodutiva. Essa estrutura, por sua vez, libera esporos, que são dispersos a partir da altura alcançada pela formiga.
Assim como existem micélios inimigos dos insetos, há também micélios cultivados por insetos fungicultores. Muitas espécies de formigas e cupins vivem em associação simbiótica com fungos. Esses insetos não conseguem digerir a celulose presente nas plantas que coletam para seus ninhos, mas os micélios têm a capacidade de produzir enzimas que decompõem essas macromoléculas em açúcares, fornecendo alimento para os insetos. Alguns questionam se os insetos realmente cultivam os fungos ou se são os fungos que controlam os insetos para obterem alimento.
Os liquens, encontrados em troncos de árvores, no solo e em rochas, são outro exemplo de associação simbiótica envolvendo fungos. Nesse caso, os fungos se associam a algas e bactérias. Os fungos fornecem proteção e abrigo, enquanto as algas e bactérias fornecem uma fonte constante de nutrientes. Juntos, eles conseguem sobreviver em ambientes onde nenhum deles seria capaz de viver isoladamente.
Por fim, os micélios bioluminescentes são os mais fascinantes e misteriosos aos olhos humanos. Estima-se que, há cerca de 160 milhões de anos, tenha existido um ancestral comum dos cogumelos do gênero Mycena, o qual possui a maior quantidade de espécies de fungos bioluminescentes conhecidas até o momento. Acredita-se que a bioluminescência ajude na dispersão dos esporos, atraindo insetos noturnos que, ao se aproximarem do cogumelo, carregam os esporos consigo. Esses micélios brilhantes criam um espetáculo noturno nas florestas, adicionando um toque de magia à natureza.
Em suma, os fungos são organismos incríveis e vitais para a saúde dos ecossistemas. Seus micélios invisíveis desempenham funções essenciais na decomposição da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes, na proteção de plantas contra pragas e na criação de associações simbióticas com outras espécies. Portanto, da próxima vez que você caminhar por uma floresta, lembre-se de que, abaixo de seus pés, há um mundo fascinante de micélios, os verdadeiros artífices invisíveis da natureza.
Comentários