A Petrobras levaria quase dois dias para levar sua estrutura de remediação de vazamentos de petróleo, instalada em Belém (PA), até o bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas, na altura do município de Oiapoque (AP), onde a petroleira pretende perfurar um poço.
Durante as longas 43 horas desse deslocamento, de cerca de 830 km, o petróleo derramado ficaria à mercê das fortíssimas correntes marítimas da região. Sem falar que o vazamento continuaria durante todo esse período, se a equipe local não conseguisse contê-lo.
O longo tempo de resposta em caso de eventuais desastres no FZA-M-59, em uma região de alta sensibilidade ambiental, foi um dos argumentos usados pelo IBAMA para negar a licença pleiteada pela Petrobras para perfurar um poço de petróleo na Foz do Amazonas. A companhia se propôs a mobilizar helicópteros e embarcações de apoio em casos de emergência, relata a Folha, mas tal proposta foi considerada insuficiente para garantir a segurança da operação.
Em até dez horas, segundo cálculos da equipe técnica do órgão ambiental, o óleo atingiria águas fora do território brasileiro, chegando à Guiana Francesa. “Mesmo nas melhores condições meteoceanográficas, o plano [da Petrobras] apresenta tempos de deslocamento de equipamentos e pessoal excessivos, tornando improvável o atendimento adequado a uma ocorrência com vazamento de óleo”, concordou, em seu despacho, o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho.
Desde que corroborou a decisão da equipe do órgão ambiental e negou a licença de perfuração à Petrobras, Agostinho vem reforçando que o IBAMA não toma decisões por pressões políticas, informa o g1. “O IBAMA é uma instituição de Estado, então não toma decisão por pressão política. É um órgão técnico.
O IBAMA sofreu muita ingerência política nos últimos quatro anos e eu me senti muito à vontade para tomar essa decisão. É uma decisão amparada pelo corpo técnico do IBAMA”, disse.
Mas, ao que tudo indica, Petrobras, Ministério de Minas e Energia e políticos do Amapá, incluindo o senador Randolfe Rodrigues, que era da Rede Sustentabilidade, querem retornar aos tempos do governo do inominável e derrubar uma decisão técnica do IBAMA “na marra”. Mais especificamente, apelando ao presidente Lula para intervir no órgão ambiental.
A petroleira anunciou que entrará com um recurso no IBAMA contra a decisão do órgão ambiental até a próxima quarta (24/5), quando termina o prazo legal para tal medida, segundo o Valor. O questionamento seria natural, mas, a depender da data de sua realização, pode ter a ver com a volta de Lula ao país no dia anterior ao prazo-limite, quando retorna do encontro do G7.
Logo depois que Rodrigo Agostinho anunciou a negativa da licença, a Petrobras anunciou que iria desmobilizar a estrutura que montou em Belém para a perfuração do poço de petróleo – que, segundo a epbr, já custou R$ 600 milhões à empresa. E, ao que parece, sem qualquer geração efetiva de empregos na região. A companhia, porém, voltou atrás, após o apelo do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que a petroleira mantivesse os equipamentos na área, relata O Globo. Pelo visto, Silveira quer pressionar Lula para reverter a decisão do IBAMA.
O embate entre as áreas ambiental e energética do governo a respeito da exploração de petróleo na Foz do Amazonas foi destacado também por Estadãoe Folha.
Em tempo: O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e parte do chamado “mercado especializado” de petróleo e gás fóssil repetem exaustivamente que há um “imenso potencial” de combustíveis fósseis na foz do Amazonas e que a estatal petroleira nunca registrou acidentes na perfuração de poços. Mas a história mostra o contrário.
Levantamento da epbr mostra que a região tem quase 100 poços já perfurados, e nenhum resultou em descobertas significativas de petróleo – boa parte deles deu seco mesmo, sem uma gota de óleo. Em alguns casos, as perfurações foram finalizadas por causa de acidentes. E no final de 2011 a própria Petrobras teve de interromper uma perfuração de poço no antigo bloco BM-FZA-4, também na região do Oiapoque, no Amapá, porque a sonda de perfuração foi arrastada pelas fortes correntezas da foz do Amazonas. A petroleira só informou o fato em setembro de 2012, como lembra o Estadão, em matéria de 2013.
Texto publicado em CLIMA INFO
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