Além da emissão de gases de efeito estufa e destruição da biodiversidade, novo estudo da FGV identificou mais uma variável negativa para o meio ambiente e para as pessoas causada por queimadas
Apesar da preocupação com o impacto que as mudanças climáticas trarão no futuro, o clima já mudou e já reflete no cotidiano de variadas formas. Uma delas afeta mulheres grávidas e, consequentemente, a saúde dos bebês: há uma chance maior de o bebê nascer prematuro, com má-formação congênita ou com baixo peso, caso a mãe tenha sido exposta a queimadas, variações de temperatura e poluição do ar, durante os três primeiros meses de gestação.
Pesquisas anteriores já haviam relacionado o fato de grávidas expostas à poluição do ar terem mais chances de gerarem filhos com baixo peso. Este novo estudo, entretanto, é realizado pela Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV EPPG) e analisa a situação do Brasil.
Entre as descobertas, a pesquisa indica que o aumento de 100 focos de queimadas esteve associado com 18,55% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso na região Sul do Brasil, considerando que as mães tenham sido expostas a essas queimadas durante o primeiro trimestre da gravidez. Este artigo, que também identificou um aumento de aproximadamente 1%, para a região Centro-Oeste, foi publicado na Revista Científica The Lancet.
Em relação a prematuridade, a região Sudeste registrou o maior impacto considerando a exposição às queimadas. O índice encontrou um aumento de chance em 31% para o bebê nascer prematuro, caso as gestantes também tenham sido expostas a este fenômeno durante o mesmo período da gravidez. Enquanto no Norte, a chance de uma criança nascer prematura devido a queimadas aumenta em 5%.
Por fim, dentre 12 categorias de má-formação congênita que foram analisadas em outro estudo, as mais relevantes foram na região do palato e nariz, na qual teve um aumento de 0,7%, doenças no sistema respiratório, que foi de 1,3% e no sistema nervoso com 0,2%. As regiões mais afetadas pelo impacto das queimadas na má-formação congênita dos bebês foram no Norte, Sul e Centro-Oeste.
Impacto da variação climática
O professor da FGV EPPG, Weeberb Réquia, que coordenou a pesquisa, explica que os mesmos fatores “baixo peso, prematuridade e má-formação congênita” também foram pesquisados na associação com as variações climáticas. Segundo ele, esses três fatores são alguns dos indicadores para categorizar um nascimento saudável, de acordo com a comunidade médica. Além disso, destaca que os três primeiros meses de gravidez são fundamentais para a saúde do bebê, pois é o momento crucial de sua formação.
“Utilizando a mesma metodologia, identificamos que o efeito do clima sobre o nascimento de crianças com baixo peso somente foi relevante na região Norte, em específico na região Amazônica. Com o aumento de 1 Grau Celsius na temperatura há 5,16% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso”, informou o professor.
Ele destaca que esse efeito é acumulativo, ou seja, a cada grau aumentado na temperatura, é somado mais de 5% de chance de a criança nascer fora do peso ideal. “Em estudos na área de epidemiologia ambiental, geralmente, consideramos a associação entre exposição ambiental e saúde em função de um determinado aumento na exposição, para direcionar a relevância do risco e a futura tomada de decisão”, acrescentou Weeberb.
O professor destaca que as pesquisas que investigam o impacto das variações climáticas na prematuridade e na má-formação congênita já estão em andamento. E após estarem finalizadas ele partirá para investigar o impacto da poluição do ar, também nesses três fatores: baixo peso ao nascer, nascimento precoce e as anomalias congênitas.
Tecnologia em favor da ciência
Para alcançar os resultados, foram relacionados dados de monitoramento de satélite aos dados de saúde. No estudo sobre as queimadas, por exemplo, Réquia utilizou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mapeia diariamente os focos de queimadas no Brasil, e dados sobre nascimentos oriundos do DataSUS.
As informações de monitoramento por satélite ajudam a obter informações em determinada época ou ocorrência específica, o que às vezes não ocorre ao analisar somente uma base de dados.
Já em relação ao estudo das variações climáticas, além do DataSUS, foram utilizados dados sobre clima de sensoriamento remoto, aberto ao público, disponibilizados pela Nasa. O pesquisador ressalta que o volume de informações é imenso e, para isso, existem ferramentas como Big Data que ajudam a analisar o potencial das evidências encontradas nos dados.
“Os achados podem servir de base para criação de políticas públicas e assim contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, no nosso país e no mundo”, conclui o pesquisador ao mencionar que a previsão de finalizar as outras pesquisas é até o final deste ano.
Você pode acessar os estudos na íntegra e/ou conferir outro estudo do pesquisador, que investiga o impacto da poluição na cognição de estudantes, confira.
Fonte: CicloVivo
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