Uma investigação conduzida pela Polícia Federal revelou um esquema de comércio ilegal de ouro envolvendo militares na Amazônia. O tenente-coronel Abimael Alves Pinto, que coordenava operações na região, é acusado de liderar as atividades ilícitas e de estabelecer relações com líderes de garimpos ilegais.
De acordo com as investigações, Abimael Alves Pinto é suspeito de utilizar sua posição no Batalhão de Infantaria de Selva, em Manaus, para facilitar operações de garimpo ilegal. Ele teria inclusive recebido um líder garimpeiro dentro das instalações militares. A Polícia Federal apura se o tenente-coronel fornecia informações privilegiadas sobre ações do Exército e da própria PF em troca de propina, parte da qual teria sido paga com ouro extraído ilegalmente.
O relatório da PF, ao qual O GLOBO teve acesso, menciona que militares de patente inferior foram utilizados por Abimael para a venda do ouro ilegal, muitas vezes durante o horário de trabalho
O tenente-coronel foi indiciado por crimes de usurpação de patrimônio da União, lavagem de dinheiro, associação criminosa e tentativa de impedir a ação fiscalizadora do Poder Público. Ele também é alvo de um inquérito na Justiça Militar. Em sua defesa, o advogado Fernando Madureira nega as acusações, alegando que seu cliente foi injustamente envolvido e não tem nenhuma ligação com os garimpeiros, nem praticou atos ilícitos ou recebeu valores para interferir nas operações contra garimpos ilegais.
O Exército Brasileiro, por sua vez, confirmou que Abimael foi indiciado em um inquérito policial militar para apurar os crimes levantados pela investigação da Polícia Federal e afirmou que está oferecendo total apoio à PF nas investigações. O caso lança luz sobre os desafios enfrentados na luta contra o comércio ilegal de recursos naturais e a corrupção nas regiões de fronteira da Amazônia.
Escândalo no exército: Tenente-Coronel implicado em comércio ilegal de ouro na Amazônia
Numa troca de mensagens em agosto de 2020, o cabo enviou uma foto de um bolo de notas de dinheiro em um uniforme militar, expressando receio em depositar o montante no banco. Abimael instruiu o cabo a proceder com cautela, indicando conhecimento e envolvimento na situação.
Em outra mensagem interceptada em outubro de 2020, Abimael ordenou ao cabo que recebesse no batalhão um indivíduo chamado “Ildo”, identificado pela PF como Aldaildo Fongher, suspeito de liderar garimpos ilegais na região do Japurá, no norte do Amazonas. Fongher, que chegou a ser preso por transportar barras de ouro, é apontado como responsável pelo pagamento ao tenente-coronel em troca de informações privilegiadas sobre operações de combate ao garimpo ilegal
Conversas interceptadas também revelam que o tenente-coronel se referia a si mesmo como “Robin Hood” e tinha consciência da origem ilegal do dinheiro. Em um diálogo, ele expressa interesse em adquirir mercúrio, um elemento usado no processo de extração de ouro nos garimpos ilegais, oferecendo até US$ 1,5 milhão por uma garrafa do material.
A investigação da PF também trouxe à tona que o tenente-coronel recebeu cerca de R$ 930 mil entre 2020 e 2022, com os pagamentos sendo feitos por uma empresa de exportação de minérios. O dono dessa empresa foi preso preventivamente. A defesa de Abimael nega as acusações, alegando que ele sempre lutou contra o garimpo ilegal e foi injustamente citado por criminosos.
O caso, que está sendo acompanhado de perto pela mídia e pela Justiça Militar, destaca os desafios no combate ao garimpo ilegal na Amazônia e levanta questões sobre a integridade e a segurança nas operações de fronteira conduzidas pelo Exército Brasileiro.
*Com informações O GLOBO
Comentários