O setor agropecuário brasileiro, que tem sido um dos principais motores econômicos do país, enfrenta um crescente desafio: a pressão por práticas mais sustentáveis. Isso se torna evidente quando se considera que de 90% a 99% do desmatamento global de florestas tropicais é causado direta ou indiretamente pela agropecuária, de acordo com um estudo publicado na revista Nature. No Brasil, essa tendência se mantém, com 95,7% do total desmatado ligado ao setor agropecuário – e com indícios de ilegalidade em 99% desses casos, segundo o Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas.
Essa dicotomia entre preservação ambiental e produtividade agropecuária é exacerbada pela presença de uma forte bancada ruralista no Congresso brasileiro, tornando o diálogo entre os dois segmentos extremamente desafiador no curto prazo. No entanto, existem questões emergentes que têm o potencial de unir os dois lados. Segundo o Valor Econômico, o desenvolvimento de um marco regulatório para o mercado de carbono é uma dessas questões.
Esse modelo extremamente predatório vem acelerando o desmatamento no Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil
Para começar, precisamos entender o que constitui o agronegócio. Essa indústria engloba toda a gama de atividades relacionadas à agricultura e à pecuária, desde a produção de insumos para a agricultura, a exploração de plantações e criações, até o processamento e distribuição de produtos finais. No Brasil, o agronegócio é responsável por uma parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB) e é um dos principais motores de exportação do país.
No entanto, o crescimento desse setor também tem implicações profundas para os biomas brasileiros. O país abriga alguns dos ecossistemas mais ricos e diversos do mundo, incluindo a floresta amazônica, o cerrado, a caatinga, o pantanal, a mata atlântica e o pampa. Esses biomas são fundamentais para a saúde global do planeta, atuando como reguladores climáticos, fornecendo habitat para uma diversidade incrível de espécies e desempenhando um papel essencial no ciclo da água.
Com a crescente pressão da União Europeia sobre a indústria agropecuária brasileira, os produtores estão se movendo para melhorar o rastreamento de suas cadeias produtivas. Contudo, a jornada entre preservação ambiental e uma agropecuária destrutiva é longa e espalhada por todo o país. A pressão sobre o Cerrado, um importante reservatório de água, e a expansão da agricultura para a região do MATOPIBA, ameaçam a vegetação nativa e a biodiversidade, respectivamente.
Na região da Caatinga, a atividade agropecuária, junto com uma alta densidade populacional, desmatamento, queimadas e a mineração, estão causando a desertificação em mais de 110 municípios, segundo o Valor Econômico. Além disso, um relatório recente aponta para o fato de que a floresta Amazônica gera mais valor quando preservada. Segundo o estudo “Nova Economia da Amazônia – NEA”, mudanças em direção à bioeconomia poderiam adicionar R$ 40 bilhões por ano ao PIB da região, criando mais de 312 mil empregos e preservando 81 milhões de hectares de florestas.
Agora, com a retomada de uma agenda conservacionista pelo governo Lula, e o consequente retorno das operações de fiscalização ambiental, parece haver uma luz no fim do túnel. Ainda assim, a infraestrutura insuficiente, resultado de anos de negligência, apresenta um obstáculo, de acordo com o Valor Econômico.
Roberto Rodrigues, Ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, argumenta que o crescimento do agronegócio no Brasil não precisa ser alcançado através do desmatamento. Ele defende o uso de pastagens degradadas para a agricultura, que, segundo ele, poderiam suprir a necessidade de mais terras.
A situação é complexa e desafiadora, e a solução exigirá uma abordagem equilibrada que permita tanto o crescimento econômico quanto a preservação ambiental. Isso incluirá o estabelecimento de políticas sólidas de proteção ambiental, a adoção de práticas agropecuárias mais sustentáveis e a promoção de uma consciência ambiental mais forte entre os produtores.
*Com informações do CLIMA INFO
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