Por Suzana Camargo – Conexão Planeta
Enquanto algumas cobras imobilizam suas presas através de sua mordida e a injeção de veneno, ou até espremendo-as até a morte, outras utilizam uma tática diferente. Serpentes dos gêneros Sibon e Dipsas, encontradas em árvores em regiões de montanhas das Américas Central e do Sul, sugam os corpos viscosos de lesmas e caracóis de suas conchas antes de engoli-los inteiros. Em alguns países latinos, elas são chamadas de “caracoleras”.
E cinco novas espécies dessas cobras que chupam caramujos acabam de ser descritas. Elas foram observadas em áreas da Amazônia do Equador e da Colômbia, e também, nas florestas de Chocó-Darién, no Panamá. Todas apresentam colorações impressionantes, algumas delas com olhos vermelhos.
Três das novas espécies tiveram seus nomes escolhidos pelo ator e ativista Leonardo DiCaprio, o ambientalista e filantropo Brian Sheth*, presidente da Global Wildlife Conservation e pela equipe da Nature and Culture International.
O objetivo dos pesquisadores ao convidá-los para nomear as espécies é chamar a atenção mundial sobre as ameaças que esses animais enfrentam frente ao desmatamento e à mineração de ouro e cobre, ao longo de rios e córregos. Durante a pandemia de covid-19, houve um aumento enorme do garimpo nesses três países.
Os nomes selecionados homenageiam pessoas queridas. No caso de DiCaprio, foi a sua mãe, Irmelin: Sibon irmelindicaprioae. A espécie, extremamente rara, ocorre na floresta de Chocó-Darién. Já Sheth, decidiu indicar a filha, Marley, assim uma das cobras será conhecida como Sibon marleyae.
Já a imagem que aparece no topo dessa página é de uma Sibon canopy, em homenagem ao sistema de reservas Canopy, particularmente no Valle de Antón, província de Coclé, no Panamá.
Ameaça da mineração
Por viverem em árvores, essas espécies de cobras estão mais vulneráveis aos efeitos da derrubada da floresta.
“Quando explorei pela primeira vez as florestas tropicais do rio Nangaritza em 2014, lembro-me de pensar que o lugar era um paraíso não descoberto e intocado”, conta o biólogo Alejandro Arteaga. “Na verdade, o lugar se chama Nuevo Paraíso em espanhol, mas não é mais um paraíso. Centenas de garimpeiros ilegais usando retroescavadeiras já tomaram posse das margens do rio, que agora estão destruídas e transformadas em escombros”.
Segundo o pesquisador, a situação é tão crítica e perigosa, que guardas florestais têm medo de intervir.
Entretanto, no Panamá, a garimpagem não é ilegal. De acordo com artigo divulgado pela Fundação Khamai, ela é controlada pela Minera Panamá S.A., uma subsidiária da empresa canadense de mineração e metais First Quantum Minerals Ltd.
Nessa área de exploração de minério está o habitat de duas das cinco novas espécies descritas, a Sibon irmelindicaprioae e a Sibon canopy.
“Tanto as minas legais quanto as ilegais a céu aberto são inabitáveis para as cobras comedoras de caracóis”, afirma Arteaga. “Mas as minas legais podem ser o menor de dois males. No mínimo, eles respeitam o limite das áreas protegidas próximas, respondem a uma autoridade superior e provavelmente não praticam violência contra guardas florestais, pesquisadores e conservacionistas”.
Assim como no Brasil, o alto preço do ouro e o desemprego fazem com que garimpeiros sejam atraídos para a mineração, exatamente como o que aconteceu nas terras dos Yanomamis. Para os pesquisadores latinos, é muito difícil competir com o que eles chamam de “bonanza de oro”.
“Essas novas espécies de cobra são apenas a ponta do iceberg em termos de novas descobertas de espécies nessa região, mas se a mineração ilegal continuar nesse ritmo, pode não haver oportunidade de fazer descobertas futuras”, alerta Arteaga.
O artigo científico com a descrição das novas espécies pode ser encontrado neste link.
*Em 2019, DiCaprio e Sheth, ao lado de Laurene Powell Jobs, viúva do criador da Apple, Steve Jobs, e fundadora da organização Emerson Collective, criaram a Earth Alliance, que entre outras coisas, financia campanhas de grande porte, documentários, e reportagens ambientais independentes, para que mais e mais pessoas se mobilizem pelo futuro do planeta.
DiCaprio é ainda um dos co-fundadores da Re:wild, que trabalha pela restauração e proteção de áreas naturais e selvagens, assim como investe em pesquisas e estudos sobre espécies ameaçadas.
Texto publicado originalmente em Conexão Planeta em 23/02/2023
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