SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio à onda de devoluções de artefatos históricos a seus países de origem por museus e instituições da Europa e dos Estados Unidos, a Dinamarca anunciou que vai entregar ao Brasil um manto tupinambá do século 17, que está em Copenhagen desde 1689.
Parte da exibição etnográfica do Museu Nacional da Dinamarca, o manto é uma das apenas 11 peças semelhantes remanescentes. Todas as outras estão em instituições na Europa -cinco sob a guarda da associação nacional de museus dinamarquesa.
Descrito como uma doação pela associação, o envio da peça ao Brasil será realizado ainda este ano, após negociações entre o Museu Nacional da Dinamarca e o Museu Nacional da UFRJ, no Rio de Janeiro. A expectativa é que o manto integre o novo acervo da instituição, destruída por um incêndio em 2018.
Um dos primeiros povos indígenas que tiveram contato com os europeus quando estes chegaram à América do Sul, os tupinambás viam o manto como objeto sagrado. Vermelha, ela é feita de penas de íbis.
A Dinamarca anunciou que vai entregar ao Brasil um manto tupinambá do século 17, que está em Copenhagen desde 1689. — Foto: Museu Nacional da Dinamarca
Além da devolução, fez parte das negociações entre os dois museus um acordo de cooperação com ênfase em pesquisas conjuntas e projetos voltados ao público, incluindo a digitalização da coleção brasileira atualmente exibida no Museu Nacional da Dinamarca.
A instituição não sabe explicar como o manto foi parar no país. De acordo com a revista Piauí, que conversou com Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, a expectativa é que o público brasileiro possa ver a peça a partir de junho do ano que vem, antes mesmo da reabertura da sede da instituição, que atualmente está sendo reconstruída.
O Manto Tupinambá
Segundo informações do Museu Nacional da UFRJ, o tecido com penas vermelhas de guará é uma das mais belas, raras e valiosas peças da cultura material dos povos indígenas do Brasil. Era utilizado por pajés durante alguns rituais, como se pode ver em imagem colorida de De Bry. Nos séculos XVI e XVII, no início da colonização, foram levados por viajantes europeus e ofertados à monarcas e famílias nobres. Existem apenas 5 exemplares no mundo, nenhum deles no Brasil.
Por meio de uma marcha os Tupinambás atuais relembram a cada ano a morte de Marcelino, um líder de grande prestígio, perseguido, preso e assassinado em 1937. Para estas marchas os Tupinambás contemporâneos constróem réplicas dos antigos mantos Tupinambá, expressando nessas peças a vitalidade e complexidade de sua cultura e reafirmando também a força de seu projeto coletivo de futuro.
Texto publicado em Acessa.com
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